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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Obesidade infantil: como podemos ser eficazes? - Childhood obesity – Towards effectiveness




Elza D. de Mello , Vivian C. Luft , Flavia Meyer

Resumo
Objetivo: Revisar a abordagem terapêutica da obesidade infantil, bem como aspectos de seu diagnóstico e prevenção.
Fontes dos dados: Foi realizada busca de artigos científicos através das bases de dados MEDLINE, Ovid, Highwire e Scielo. As palavras-chave utilizadas foram: “childhood obesity” e também combinações junto a “treatment”, “prevention” e “consequence”. Dentre os artigos provenientes da busca incluíam-se artigos de revisão, estudos observacionais, ensaios clínicos e posições de consenso. Percebida a relevância, também se buscou diretamente referências indicadas. O período de coleta de dados foi de 1998 a 2003.
Síntese dos dados: Foram encontrados vários trabalhos de prevalência no Brasil. No entanto, poucos trazem resultados de programas educativos aplicáveis em nosso meio.
Conclusões: Deve-se prevenir a obesidade infantil com medidas adequadas de prescrição de dieta na infância desde o nascimento, além de se estudar mais sobre programas de educação que possam ser aplicados no nível primário de saúde e nas escolas.
J Pediatr (Rio J). 2004;80(3):173-82: Obesidade, sobrepeso, hábitos alimentares.
É consenso que a obesidade infantil vem aumentando de forma significativa e que ela determina várias complicações na infância e na idade adulta. Na infância, o manejo pode ser ainda mais difícil do que na fase adulta, pois está relacionado a mudanças de hábitos e disponibilidade dos pais, além de uma falta de entendimento da criança quanto aos danos da obesidade.
O objetivo deste estudo é apresentar características gerais da obesidade e, especialmente, salientar aspectos práticos do tratamento da obesidade infantil de ampla apli-
Abstract
Objective: To review therapeutic approaches to childhood obesity and also its diagnosis and prevention.
Sources of data: Searches were performed of scientific papers held on the MEDLINE, Ovid, Highwire and Scielo databases. Keywords utilized were: “childhood obesity” and a variety of combinations of this term with “treatment”, “prevention” and “consequence”. The search returned papers including review articles, observational studies, clinical trials and consensus statements. Bibliographical references in these articles were also investigated if it was perceived that they were relevant. Data was collected from 1998 to 2003.
Summary of the findings: While a number of different Brazilian prevalence studies were found, few gave details of the results of educational programs in our country.
Conclusions: Childhood obesity must be prevented through prescriptive diets from birth throughout childhood. Educational programs that might be applicable to primary health care or schools should receive further study.
J Pediatr (Rio J). 2004;80(3):173-82: Obesity, overweight, eating habits.
cação, além da importância da prevenção e formas práticas de realizá-la.
Prevalência da obesidade no Brasil
De acordo com relatos da Organização Mundial da Saúde, a prevalência de obesidade infantil tem crescido em torno de 10 a 40% na maioria dos países europeus nos últimos 10 anos. A obesidade ocorre mais freqüentemente no primeiro ano de vida, entre 5 e 6 anos e na adolescência1,2.
No Brasil, já foram realizados estudos3-7 verificando o aumento da obesidade infantil, como apresentado na Tabela 1.
A Figura 1 mostra a freqüência aumentada de obesidade e desnutrição em duas regiões do país em três décadas8.
A obesidade está presente nas diferentes faixas econômicas – no Brasil, principalmente nas faixas de classe mais alta. A classe socioeconômica influencia a obesidade por meio da educação, da renda e da ocupação, resultando em


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Tabela 1 - Prevalência de desnutrição, sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes no Brasil
Autor Local Faixa n Critério Resultados
etária utilizado
Monteiro & Conde, São Paulo 0 a 59 meses 1973/74: 756 índice 1973/74 - desnutrição: 5,5%; obesidade: 3,2%
20003 de idade 1984/85: 999 peso/altura 1984/85 - desnutrição: 1,7%; obesidade: 4,0%
1995/96: 1.266 e escore z* 1995/96 - desnutrição: 0,6%; obesidade: 3,8%
Leão et al., 20034 Salvador 5 a 10 anos 387 IMC † obesidade - escola pública: 8%; escola privada: 30%
Anjos et al., 20035 Rio de Janeiro < 10 anos 3.387 IOTF ‡ obesidade: 5%
Balaban & Silva, Recife crianças e 762 IMC sobrepeso - alta renda: 34,3%;
20036 adolescentes baixa renda: 8,7%
obesidade - alta renda: 15,1%;
baixa renda: 4,4%
Abrantes et al., Sudeste e crianças e 7.260 IMC obesidade - sexo feminino: 10,3%;
20027 Nordeste adolescentes sexo masculino: 9,2%
* Foram utilizadas como padrão de referência as curvas do National Center for Health Statistics (NCHS) de 1978.

IMC = índice de massa corpórea.
IOTF = International Obesity Task Force.

Desnutrição Obesidade

Figura 1 - Prevalência, em porcentagem, de obesidade e desnutrição em três décadas em duas regiões do Brasil8
padrões comportamentais específicos que afetam ingestão calórica, gasto energético e taxa de metabolismo. Entretanto, à medida que alimentos saudáveis, incluindo peixes, carnes magras, vegetais e frutas frescas, estão menos disponíveis para indivíduos de condições mais restritas, a relação entre obesidade e baixa classe socioeconômica é observada em países em desenvolvimento2,9.
Wang et al.10 compararam a prevalência de obesidade de acordo com a renda familiar entre vários países nas décadas de 70 e 90.  A Figura 2 mostra a comparação desses aspectos entre o Brasil e os Estados Unidos. No Brasil, assim como nos Estados Unidos e Europa, tem-se observado um aumento da prevalência de obesidade, o qual está estritamente relacionado com mudanças no estilo de vida (outros tipos de brincadeiras, mais tempo frente à televisão e jogos de computadores, maior dificuldade de brincar na rua pela falta de segurança) e nos hábitos alimentares (maior apelo comercial pelos produtos ricos em carboidratos simples, gorduras e calorias, maior facilidade de fazer preparações ricas em gorduras e calorias e menor custo de produtos de padaria)10.

Figura 2 - Prevalência de sobrepeso, em porcentagem, de acordo com a renda familiar per capita em pesquisas nacionais do Brasil e Estados Unidos nas décadas de
70 e 9010
No Brasil, foram realizados dois grandes inquéritos, em 1989 e em 1996, posteriormente analisados de forma crítica por Taddei et al.11. Foi observado que, nesses 7 anos, houve mudanças relevantes na prevalência de obesidade entre crianças menores de 5 anos de idade. Observou-se aumento da prevalência nas regiões menos desenvolvidas e redução em regiões mais desenvolvidas. Tanto os aumentos quanto as reduções ocorreram mais intensamente entre filhos de mães com maior grau de escolaridade e entre crianças menores de 2 anos de idade das respectivas regiões (Figura 3).
Definição e avaliação da obesidade
A definição de obesidade é muito simples quando não se prende a formalidades científicas ou metodológicas. O visual do corpo é o grande elemento a ser utilizado. O ganho de peso na criança é acompanhado por aumento de estatura e aceleração da idade óssea. No entanto, depois, o ganho de peso continua, e a estatura e a idade óssea se mantêm constantes. A puberdade pode ocorrer mais cedo, o que acarreta altura final diminuída, devido ao fechamento mais precoce das cartilagens de crescimento12.
Existem vários métodos diagnósticos para classificar o indivíduo em obeso e sobrepeso. O índice de massa corporal (IMC, peso/estatura2) e a medida da dobra cutânea do tríceps (DCT) são bastante utilizados em estudos clínicos e
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epidemiológicos. Os percentis 85 e 95 do IMC e da DCT são comumente utilizados para detectar sobrepeso e obesidade, respectivamente13. Mais recentemente, tem-se a tabela de Cole et al.14, com padrões mundiais para sobrepeso e obesidade infantil. Outro índice bastante útil é o índice de obesidade (IO, peso atual/peso no percentil 50/estatura atual/estatura no percentil 50 x 100), que nos indica quanto do peso do paciente excede seu peso esperado, corrigido para a estatura. De acordo com esse índice, a obesidade é considerada leve quando o IO é de 120 a 130%, moderada quando é de 130 a 150%, e grave quando excede 150%. Um grande problema deste método é pressupor que qualquer aumento de peso acima do peso corpóreo padrão represente aumento de gordura. Assim, nem todas as crianças com IO superior a 120% são, de fato, obesas. Mas, de qualquer forma, este método pode ser valioso na triagem de crianças obesas15,16.
A escolha de um ou vários métodos deve ser criteriosa, devendo-se considerar sexo, idade e maturidade sexual para obter valores de referência e classificações de obesidade17,18. No sexo feminino, as dobras cutâneas podem ser maiores, pela maior quantidade de gordura13. Na criança e no adolescente, o IMC está relacionado com idade e estágio de maturação sexual19. Há diferenças na quantidade de gordura e na sua distribuição regional entre as pessoas, e também quanto a idade e sexo – diferenças essas que podem ser de origem genética20.
> 4 anos materna materna meses meses
> 4 anos > 4 anos
Figura 3 - Demonstração das prevalências, em porcentagem, de sobrepeso e obesidade em dois inquéritos realizados no Brasil11
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Complicações da obesidade infantil
A quantidade total de gordura, o excesso de gordura em tronco ou região abdominal e o excesso de gordura visceral são três aspectos da composição corporal associados à ocorrência de doenças crônico-degenerativas. O aumento do colesterol sérico é um fator de risco para doença coronariana, e esse risco é ainda maior quando associado à obesidade. O sobrepeso triplica o risco de desenvolvimento de diabetes melito21. Assim como a obesidade, o nível de colesterol aumentado, o hábito de fumar e a presença de hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito e sedentarismo são fatores de risco independentes para doença coronariana. A obesidade é fator de risco para dislipidemia, promovendo aumento de colesterol, triglicerídeos e redução da fração HDL colesterol. A perda de peso melhora o perfil lipídico e diminui o risco de doenças cardiovasculares22. Oliveira et al.23 referem que a qualidade da ingestão é um fator de risco para doença coronariana e que a ingestão da criança está intimamente relacionada com a dos pais.
A aterosclerose tem início na infância, com o depósito de colesterol na íntima das artérias musculares, formando a estria de gordura. Essas estrias nas artérias coronarianas de crianças podem, em alguns indivíduos, progredir para lesões ateroscleróticas avançadas em poucas décadas, sendo este processo reversível no início do seu desenvolvimento. É importante ressaltar que o ritmo de progressão é variável24-26. A determinação sistemática do perfil lipídico na infância e adolescência não é recomendável. Entretanto, deve ser realizada entre os 2 e 19 anos de idade em situações de risco. Os valores de lipídeos limítrofes e aumentados estão apresentados na Tabela 2. Confirmada a dislipidemia, o tratamento dietético deverá ser iniciado após os 2 anos de idade, com o cuidado de priorizar as necessidades energéticas e vitamínicas próprias à idade e a flexibilidade de permitir, em algumas situações, ingestão de gordura superior a 25%. Deve-se encorajar a ingestão de fibras e desestimular a de alimentos ricos em colesterol e gordura saturada, bem como o uso excessivo de sal e açúcar refinado. Quando houver necessidade de aumentar a taxa de gordura, isso deve ser feito preferencialmente às custas de gordura monoinsaturada26.
Tabela 2 - Valores de referência de colesterol total, fração de LDL colesterol, fração de HDL colesterol e triglicerídeos em crianças de 2 a 19 anos de idade26
Lipídeos Idade Valores (mg/dl)
(anos) Desejáveis Limítrofes Aumentados
Colesterol total 2 - 19 < 170 170 - 199 > 200
LDLc 2 - 19 < 110 110 - 129 > 130
HDLc < 10 > 40
10 - 19 > 35
Triglicerídeos < 10 < 100 >100
10 - 19 < 130 >130
LDL = lipoproteína de baixa densidade;  HDL = lipoproteína de alta densidade; LDLc = fração de LDL colesterol;  HDLc = fração de HDL colesterol.
Wright et al. apresentaram um estudo que visou verificar se a obesidade na infância aumentava o risco de obesidade na vida adulta e os fatores de risco associados. Concluíram que esse risco existe, mas que a magreza na infância não é um fator protetor para a ocorrência de obesidade na vida adulta. Assim, afirmam que o IMC na infância correlaciona-se positivamente com o IMC do adulto, e que crianças obesas têm maior risco de óbito quando adultos. No entanto, o IMC não reflete a porcentagem de gordura, e somente aos 13 anos crianças obesas têm realmente maior chance de se tornar adultos obesos27.
A relação entre baixo peso ao nascer e resistência à insulina é incerta. Um estudo recente mostrou não haver correlação significativa. Entretanto, o peso atual persiste como fator que contribui para esse desfecho. Desta forma, é importante o manejo e a prevenção da obesidade infantil, visto que esta é mais facilmente corrigível e evitável do que o baixo peso gestacional, além de apresentar conseqüências mais significativas à saúde28.
A obesidade, já na infância, está relacionada a várias complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade. E, quanto mais tempo o indivíduo se mantém obeso, maior é a chance das complicações ocorrerem, assim como mais precocemente29. A Tabela 3 mostra as possíveis complicações da obesidade22,24,30-33. Tabela 3 - Complicações da obesidade

Articulares Maior predisposição a artroses, osteoartrite
Epifisiólise da cabeça femoral
Genu valgum, coxa vara
Cardiovasculares Hipertensão arterial sistêmica Hipertrofia cardíaca
Cirúrgicas Aumento do risco cirúrgico
Crescimento Idade óssea avançada, aumento da altura Menarca precoce
Cutâneas Maior predisposição a micoses, dermatites e piodermites
Endócrino- Resistência à insulina e maior
metabólicas predisposição ao diabetes
Hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia
Gastrointestinais Aumento da freqüência de litíase biliar Esteatose hepática e esteatohepatite
Mortalidade Aumento do risco de mortalidade
Neoplásicas Maior freqüência de câncer de endométrio, mama, vesícula biliar, cólon/ reto, próstata
Psicossociais Discriminação social e isolamento
Afastamento de atividades sociais
Dificuldade de expressar seus sentimentos
Respiratórias Tendência à hipóxia, devido a aumento da demanda ventilatória, aumento do esforço respiratório, diminuição da eficiência muscular, diminuição da reserva funcional, microectasias, apnéia do sono, síndrome de Pickwicky
Infecções Asma

A quantidade de perda de peso recomendada e o cronograma para determinar esta perda poderão variar, dependendo do grau de obesidade e da natureza e gravidade das complicações. As crianças com complicações que potencialmente envolvem risco de morte são candidatas à perda de peso mais rápida. Os dados de pesquisa disponíveis são limitados para sugerir uma taxa segura na qual as crianças e os adolescentes possam perder peso sem desaceleração da velocidade de crescimento. Em geral, quanto maior o número e a gravidade das complicações, maior a probabilidade de que esta criança necessite de avaliação e tratamento, talvez medicamentoso, em um centro de obesidade pediátrico especializado25,26,34.
Obesidade e atividade física
O exercício é considerado uma categoria de atividade física planejada, estruturada e repetitiva. A aptidão física, por sua vez, é uma característica do indivíduo que engloba potência aeróbica, força e flexibilidade. O estudo desses componentes pode auxiliar na identificação de crianças e adolescentes em risco de obesidade. A criança e o adolescente tendem a ficar obesos quando sedentários, e a própria obesidade poderá fazê-los ainda mais sedentários35. A atividade física, mesmo que espontânea, é importante na composição corporal, por aumentar a massa óssea e prevenir a osteoporose e a obesidade36.
Hábitos sedentários, como assistir televisão e jogar video game, contribuem para uma diminuição do gasto calórico diário. Klesges et al. observaram uma diminuição importante da taxa de metabolismo de repouso enquanto as crianças assistiam a um determinado programa de televisão, sendo ainda menor nas obesas37. Então, além do gasto metabólico de atividades diárias, o metabolismo de repouso também pode influenciar a ocorrência de obesidade. O aumento da atividade física, portanto, é uma meta a ser seguida38,39, acompanhada da diminuição da ingestão alimentar40. Com a atividade física, o indivíduo tende a escolher alimentos menos calóricos41.
Há estudos que relacionam o tempo gasto assistindo televisão e a prevalência de obesidade. A taxa de obesidade em crianças que assistem menos de 1 hora diária é de 10%42, enquanto que o hábito de persistir por 3, 4, 5 ou mais horas por dia vendo televisão está associado a uma prevalência de cerca de 25%, 27% e 35%, respectivamente43. A televisão ocupa horas vagas em que a criança poderia estar realizando outras atividades. A criança freqüentemente come na frente da televisão, e grande parte das propagandas oferecem alimentos não nutritivos e ricos em calorias40,44,45. Grazini & Amâncio analisaram o teor das propagandas veiculadas em horários de programas para adolescentes, verificando que a maioria delas (53%) eram de lanches e refrigerantes46.
O tratamento da obesidade é difícil porque há variação do metabolismo basal em diferentes pessoas e na mesma pessoa em circunstâncias diferentes. Assim, com a mesma ingestão calórica, uma pessoa pode engordar e outra não. Além disso, a atividade física de obesos é geralmente menor do que a de não-obesos. Difícil é saber se a tendência ao sedentarismo é causa ou conseqüência da obesidade47.
Em relação à atividade física, geralmente a criança obesa é pouco hábil no esporte, não se destacando. Para a atividade física sistemática, deve-se realizar uma avaliação clínica criteriosa48. No entanto, a ginástica formal, feita em academia, a menos que muito apreciada pelo sujeito, dificilmente é tolerada por um longo período, porque é um processo repetitivo, pouco lúdico e artificial no sentido de que os movimentos realizados não fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas. Além disso, existe a dificuldade dos pais e/ou responsáveis de levarem as crianças em atividades sistemáticas, tanto pelo custo como pelo deslocamento. Portanto, deve-se ter idéias criativas para aumentar a atividade física, como descer escadas do edifício onde mora, jogar balão, pular corda, caminhar na quadra, além de ajudar nas lidas domésticas49,50. O fato de mudar de atividade, mesmo que ela ainda seja sedentária, já ocasiona aumento de gasto energético e, especialmente, mudança de comportamento, de não ficar inerte, por horas, numa só atividade sedentária, como se fosse um vício42.
Bar-Or discutiu aspectos relacionados com obesidade e atividade física, salientando que programas devem estimular a atividade física espontânea, além de avaliar se, no final de um programa de prática desportiva intensa, foi incorporada uma mudança no estilo de vida da criança. A criança deve ser motivada a manter-se ativa, e essa prática deve ser incorporada preferencialmente por toda a família51.
Obesidade e hábito alimentar
Vários fatores influenciam o comportamento alimentar, entre eles fatores externos (unidade familiar e suas características, atitudes de pais e amigos, valores sociais e culturais, mídia, alimentos rápidos, conhecimentos de nutrição e manias alimentares) e fatores internos (necessidades e características psicológicas, imagem corporal, valores e experiências pessoais, auto-estima, preferências alimentares, saúde e desenvolvimento psicológico).
Dificuldade em estabelecer um bom controle de saciedade é um fator de risco para desenvolver obesidade, tanto na infância quanto na vida adulta. Quando as crianças são obrigadas a comer tudo o que é servido, elas podem perder o ponto da saciedade. A saciedade se origina após o consumo de alimentos, suprime a fome e mantém essa inibição por um período de tempo determinado. A fase cefálica do apetite inicia antes mesmo do alimento chegar à boca – são sinais fisiológicos, gerados pela visão, audição e odor. Esses estímulos fisiológicos envolvem um grande número de neurotransmissores, neuromoduladores, vias e receptores. A distensão do estômago é um sinal importante de saciedade. Além de estímulos mecânicos, estão envolvidos neurotransmissores e peptídeos, como colecistocinina, glucagon, bombesina e somatostatina. A colecistocinina tem sido considerada um hormônio mediador da saciação. No sistema nervoso central, principalmente no hipotálamo, encontram-se os sistemas serotonínicos do controle do apetite. Outros peptídeos, como beta-endorfina, dinorfina e galanina, atuam no sistema nervoso central influenciando a ingestão e/ou a saciedade. O neuropeptídeo Y é o mais potente estimulador do apetite conhecido. A leptina, produzida no tecido adiposo, tem um papel central e periférico, participa do controle energético e, provavelmente, interage com o neuropeptídeo Y no controle do apetite e da saciedade. Assim, o tamanho do prato ou da porção servida não é o determinante da saciedade; a criança pode ter ficado satisfeita antes, ou então querer comer ainda mais52,53.
Existem aspectos bem estudados em relação aos hábitos alimentares mais relacionados com a obesidade. Apregoa-se que o aleitamento materno seja um fator protetor importante para a obesidade54,55. No entanto, hábitos como não tomar café da manhã, jantar consumindo grande quantidade calórica, ingerir uma variedade limitada de alimentos e preparações e em grandes porções, consumir em excesso líquidos leves mas calóricos e ter uma inadequada prática de alimentação precoce são prejudiciais e indutores de obesidade56,57. Um estudo prospectivo, de 19 meses de duração, com 548 crianças de escolas da sexta e sétima séries, verificou que o IMC e a freqüência de obesidade aumentavam para cada porção adicional consumida de bebida contendo açúcar refinado58. O hábito do consumo de lanches, analisado em indivíduos de 2 a 18 anos de idade, também foi alterado no decorrer das últimas décadas. Atualmente, mais crianças consomem lanches do que no passado, sendo o maior aumento observado na última década. A ingestão média de calorias proveniente dos lanches aumentou de 450 para 600 calorias por dia e hoje representa 25% da ingestão energética diária. A densidade energética dos lanches das crianças também aumentou de 1,35 para 1,54 kcal/g59. Este achado é importante, já que pequenas elevações na densidade energética de alimentos consumidos podem levar a grandes aumentos na ingestão calórica total. Assim, as tendências de consumo de lanches podem estar contribuindo para o aumento da obesidade na infância. A adição de açúcar chega a representar um terço das calorias ingeridas pela população americana60.
Os pais exercem uma forte influência sobre a ingestão de alimentos pelas crianças. Entretanto, quanto mais os pais insistem no consumo de certos alimentos, menor a probabilidade de que elas os consumam. Da mesma forma, a restrição por parte dos pais pode ter efeito deletério. Na primeira infância, recomenda-se que os pais forneçam às crianças refeições e lanches saudáveis, balanceados, com nutrientes adequados e que permitam às crianças escolher a qualidade e a quantidade que elas desejam comer desses alimentos saudáveis21,23.
Manejo da obesidade infantil
A obesidade pode ser dividida em obesidade de origem exógena – a mais freqüente – e endógena. Para a endógena, deve-se identificar a doença básica e tratá-la. A obesidade exógena origina-se do desequilíbrio entre ingestão e gasto calórico, devendo ser manejada com orientação alimentar, especialmente mudanças de hábitos e otimização da atividade física61.
É essencial que sejam avaliados a disponibilidade de alimentos, as preferências e recusas, os alimentos e preparações habitualmente consumidos, o local onde são feitas as refeições, quem as prepara e administra, as atividades habituais da criança, a ingestão de líquidos nas refeições e intervalos, e os tabus e crenças alimentares. Diminuir o consumo de alimentos e preparações hipercalóricas já é suficiente para a redução do peso62.

Figura 4 - Mediadores comportamentais de semelhanças familiares no hábito alimentar e no estado nutricional64
É também fundamental salientar que crianças e adolescentes seguem padrões paternos; se esses não forem modificados ou manejados em conjunto, um insucesso do tratamento já é previsto63,64 (Figura 4).
Quanto à orientação dietética, é fundamental que ela determine perda de peso controlada ou a manutenção do mesmo, crescimento e desenvolvimento normais, ingestão de macro- e micronutrientes em quantidades adequadas para idade e sexo, redução do apetite ou da voracidade, manutenção da massa muscular, ausência de conseqüências psicológicas negativas e manutenção dos hábitos alimentares corretos e modificação dos inadequados65. Crianças menores devem manter o peso ou ganhar pouco peso, mais do que perder, para que não comprometam seu desenvolvimento15,61,62.
As recomendações de 2003 da Academia Americana de Pediatra para o tratamento da obesidade infantil são as seguintes33:
Supervisão da saúde: identificar pacientes em risco através de história familiar, peso ao nascer ou fatores socioeconômicos, étnicos, culturais ou comportamentais; calcular e registrar o IMC uma vez ao ano em todas as crianças e adolescentes; utilizar alterações no IMC para identificar taxa excessiva de ganho de peso relativo ao crescimento linear; encorajar o aleitamento materno; orientar pais e educadores a promover padrões alimentares saudáveis, oferecendo lanches nutritivos; encorajar a autonomia das crianças no controle da sua ingestão alimentar, estabelecendo limites apropriados nas escolhas; promover rotineiramente atividade física, incluindo jogos não-estruturados em casa, na escola e na comunidade; determinar limite no tempo de assistir televisão e vídeo para um máximo de 2 horas por dia; reconhecer e monitorar alterações nos fatores de risco associados à obesidade para adultos com doença crônica, tais como hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, hiperinsulinemia, intolerância à glicose e sintomas da síndrome da apnéia do sono obstrutiva.
Apoio geral: ajudar pais, professores, técnicos e outros profissionais que influenciam a juventude a discutir hábitos saudáveis – e não a cultura do corpo – como parte do esforço para controlar sobrepeso e obesidade; incentivar gestores de organizações locais, estaduais, nacionais e de escolas a darem condições de um estilo de vida saudável para todas as crianças, incluindo alimentação apropriada e oportunidade adequada para atividade física regular; encorajar organizações responsáveis por cuidado e financiamento em saúde a promoverem estratégias efetivas de prevenção e tratamento à obesidade; encorajar recursos públicos e privados a direcionarem fundos à pesquisa em estratégias efetivas para prevenir sobrepeso e obesidade; e maximizar limitados recursos familiares e comunitários, para que se alcancem resultados saudáveis à juventude; promover apoio e defesa por marketing social, com a intenção de promover escolhas alimentares saudáveis e maior atividade física.
Os programas de tratamento que envolvem crianças e adolescentes com sobrepeso em atividade física e ginástica rigorosa demonstram benefício significativo na obtenção de perda de peso e na melhora do preparo físico. No entanto, a maioria dos programas descritos é programada para um período de até 10 meses, com tratamento continuado e intenso, necessitando de incentivo para que os participantes permaneçam, o que pode não ser aplicado na prática diária62,66. Os resultados de programas não são tão alentadores, embora, em crianças usuárias, os resultados sejam melhores62,67.
A maioria das intervenções dietéticas foca-se na redução da ingestão de gordura, mesmo quando a gordura alimentar pode não ser uma causa importante da obesidade. Com respeito à atividade física, muitos estudos têm utilizado prescrições de exercícios convencionalmente programados, embora aumentar a atividade como estilo de vida ou reduzir comportamentos sedentários possam ser mais efetivos para o controle do peso a longo prazo2,62,65.
Programas educacionais inovadores, planejados para ampliar o conhecimento da criança sobre nutrição e saúde, bem como para influenciar de modo positivo a dieta, a atividade física e a redução da inatividade, já foram desenvolvidos67-70. Campell et al. realizaram uma revisão dos programas para manejo de obesidade infantil, concluindo que os estudos ainda são de pequeno número, não se podendo estabelecer conclusões efetivas, mas que estratégias que visam à redução do sedentarismo são úteis71. Os diversos protocolos de programas de manejo de obesidade infantil foram também estudados por Summerbell et al., verificando que as orientações variam bastante, como intervenções de grupo e individuais, com ou sem supervisão médica, terapia familiar, comportamental e cognitiva, e tratamento farmacológico. Assim, é necessário maior consenso nas conclusões sobre efetividade, já que as intervenções variam bastante72.
Os programas escolares em educação em saúde são, no momento, a estratégia mais eficaz para reduzir problemas de saúde pública crônica relacionados com estilo de vida sedentário e padrão alimentar errôneo, embora mais estudos sejam necessários73.
Prevenção da obesidade infantil
Como os programas de intervenção ainda têm pouco consenso, a prevenção continua sendo o melhor caminho. Os esforços para a prevenção da obesidade na infância são provavelmente mais eficazes quando endereçados simultaneamente aos alvos primordial, primário e secundário, com metas apropriadamente diferentes. A prevenção primordial visa prevenir que as crianças se tornem “de risco” para sobrepeso; a prevenção primária objetiva evitar que as crianças “de risco” adquiram sobrepeso; e a prevenção secundária visa impedir a gravidade crescente da obesidade e reduzir a comorbidade entre crianças com sobrepeso e obesidade. Dentro deste cenário, as prioridades básicas de ação podem ser identificadas, priorizadas e vinculadas às estratégias de intervenção potencialmente satisfatórias34.
As iniciativas de prevenção primordial e primária são as mais eficazes, provavelmente se forem iniciadas antes da idade escolar e mantidas durante a infância e a adolescência. Deve haver um esforço significativo no sentido de direcioná-las à prevenção da obesidade já na primeira década de vida. A política da escola pode promover ou desencorajar dietas saudáveis e atividade física67,74,75. É muito importante que seja incorporado ao currículo formal das escolas, em diferentes séries, o estudo de nutrição e hábitos de vida saudável, pois neste local e momento é que pode começar o interesse, o entendimento e mesmo a mudança dos hábitos dos adultos, por intermédio das crianças e dos adolescentes.
A Figura 5 apresenta alvos principais para a prevenção da obesidade infantil76.
A maioria das recomendações deve ser seguida por toda a família, sendo os indivíduos obesos ou não25,61,64,77,78.
Em nosso meio, a obesidade infantil é um sério problema de saúde pública, que vem aumentando em todas as camadas sociais da população brasileira. É um sério agravo para a saúde atual e futura dos indivíduos. Prevenir a obesidade infantil significa diminuir, de uma forma racional e menos onerosa, a incidência de doenças crônico-degenerativas. A escola é um local importante onde esse trabalho de prevenção pode ser realizado, pois as crianças fazem pelo menos uma refeição nas escolas, possibilitando um trabalho de educação nutricional, além de também proporcionar aumento da atividade física. A merenda escolar deve atender às necessidades nutricionais das crianças em quantidade e qualidade e ser um agente formador de hábitos saudáveis67.
Para alcançar uma alimentação saudável, além de fornecer informações corretas sobre alimentação e saúde (promoção), é preciso evitar que informações incorretas e contraditórias alcancem indivíduos (proteção) e, ao mesmo tempo, propiciar a esses indivíduos condições que tornem factíveis a adoção das orientações que recebem (apoio). Isso significa que uma política consistente de prevenção da obesidade deve compreender não só ações de caráter educativo e informativo (como campanhas veiculadas por meios de comunicação de massa), como também medidas legislativas (como controle da propaganda de alimentos não-saudáveis, especialmente os dirigidos ao público infantil), tributárias (isentando alimentos saudáveis e onerando os preços dos não-saudáveis), treinamento e reciclagem de profissionais de saúde, medidas de apoio à produção e comercialização de alimentos saudáveis e mesmo medidas relacionadas ao planejamento urbano (por exemplo, privilegiando o deslocamento de pedestres em contraposição ao de automóveis e dotando áreas carentes de recursos mínimos para a prática de atividades físicas de lazer)32,33,78-80.

Figura 5 - Alvos em potencial para a prevenção da obesidade infantil e adolescente76
Saber o que é necessário para emagrecer não apresenta maiores dificuldades após algum tempo de prática. Querer, dever e poder emagrecer são questões imensamente mais complexas e exigem grande investimento emocional, intelectual e físico. 
Referências
1. Dietz WH. The obesity epidemic in young children. BMJ. 2001;322(7282):313-4.
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Correspondência:
Elza Daniel de Mello
Passo da Taquara, 1414
CEP 91787-731 - Porto Alegre, RS
Tel.: (51) 9982.7448

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre o tratamento da alergia ao leite de vaca no lactente

Artigo Original
Conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre  o tratamento da alergia ao leite de vaca no lactente
Pediatricians and nutritionists knowledge about treatment of cow milk allergy in infants
Ana Paula B. Cortez[1], Lilian Cristiane da S. Medeiros[2], Patrícia da Graça L. Speridião[3], Regina Helena G. M. Mattar4


Ulysses Fagundes Neto[4], Mauro Batista de Morais[5]

Resumo

Objetivo: Avaliar o conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre a dieta de exclusão do leite de vaca e seus derivados, com ênfase em questões relacionadas à nutrição da criança.
Métodos: Estudo transversal descritivo, do qual participaram pediatras (n=53) e nutricionistas (n=29), vinculados a hospitais públicos do Município de São Paulo, no ano de 2005. Os dados foram coletados por questionário auto-administrado.
Resultados: A idade dos profissionais variou de 21 a 50 anos. Quanto ao tempo de graduação, 41,2% eram formados a menos de cinco anos e 91,6% possuíam especialização, mestrado e/ou doutorado. A maioria (97,5%) afirmou avaliar a dieta de crianças submetidas à exclusão do leite de vaca, entretanto, somente 48% o faziam de forma mais detalhadas, incluindo o cálculo da ingestão alimentar. Apenas 38,7% comparam a ingestão alimentar da criança com algum padrão de recomendação. A recomendação diária da ingestão de cálcio para crianças com até 36 meses foi corretamente assinalada por 22% dos pediatras e 60,7% dos nutricionistas (p=0,001). Produtos não adequados como substitutos do leite de vaca seriam recomendados por 66% dos pediatras e 48,3% dos nutricionistas. Com relação à leitura de rótulos de produtos industrializados, 81,6% dos pediatras e 96,4% dos nutricionistas orientam os pais a ler todos os termos que indicam a presença das proteínas do leite de vaca.
Conclusões: Os pediatras e nutricionista demonstraram erro conceitual no que se refere às principais recomendações terapêuticas na alergia às proteínas do leite de vaca.

Palavras-chave: substitutos do leite; dieta; questionários; conhecimentos, atitudes e prática em saúde.

AbstRACt

Objective: Evaluate the knowledge of pediatricians and nutritionists regarding the exclusion diet of cow milk and derivates, with emphasis on questions related to the nutrition of children submitted to such diet.
Methods: Cross-sectional study that enrolled pediatricians (n=53) and nutritionists (n=29) from public hospitals in São Paulo, Brazil, during 2005. Data was collected through selfadministered questionnaires.
Results: The age of the professionals varied from 21 to 50 years old. Regarding professional experience, 41.2% were graduated for less than five years and 91.6% had a specialization course, masters and/or PhD degree. The vast majority of professionals (97.5%) confirmed that they regularly evaluated the diet of children that needed exclusion of cow milk. However, only 48% of the professionals conducted a more detailed evaluation of the diet, including calculations of food ingestion. Only 38.7% of the professionals compared child’s food ingestion with some recommended pattern. Recommendations for daily ingestion of calcium by children up to the age of 36 months were properly mentioned by 22% of the pediatricians and 60.7% of the nutritionists (p=0.001). Inadequate cow milk substitute products were recommended by 66% of the pediatricians and by 48.3% of the nutritionists. Regarding labels of industrialized products, 81.6% of the pediatricians and 96.4% of the nutritionists advised the parents to look for all terms that could indicate the presence of cow milk protein.
Conclusions: Pediatricians and nutritionists made conceptual errors in their main recommendations regarding the treatment of cow milk protein allergy.
Key-words: milk substitutes; nutritionist; diet; questionnaires; health knowledge, attitudes and practice.
Endereço para correspondência:
Mauro Batista de Morais
Rua Pedro de Toledo, 441
CEP 04039-031 – São Paulo/SP
E-mail: mbmorais@osite.com.br
Recebido em: 2/2/2007 Aprovado em: 9/4/2007

Introdução

O aleitamento materno promove crescimento e nutrição adequados, proteção contra doenças e infecções, além de fortalecer o vínculo entre mãe e filho(1). A amamentação exclusiva nos primeiros quatro a seis meses de vida e complementada até os dois anos de idade é recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS)(2). Verifica-se, em nosso meio, que o número de crianças amamentadas ainda é pequeno, e a introdução precoce de outros tipos de leite é comum(1). O leite de vaca é freqüentemente utilizado em substituição ao leite materno; logo, as suas proteínas são os primeiros antígenos alimentares com os quais o lactente tem contato, o que o torna o principal alimento envolvido na gênese da alergia alimentar nesta idade(3).
A prevalência estimada de alergia às proteínas do leite de vaca é de 2 a 3% em crianças menores de três anos(4,5). Os sintomas mais freqüentes manifestam-se no trato gastrointestinal, trato respiratório e pele(3,6,7). As manifestações clínicas incluem urticária, prurido, vômito, diarréia, náusea, dor abdominal, angioedema, broncoespasmo e constipação
intestinal, dentre outras(3,7).
O diagnóstico de alergia às proteínas do leite de vaca deve ser realizado com cautela, uma vez que seu tratamento se baseia na exclusão do leite de vaca, que é importante fonte de nutrientes, como o cálcio(8). Além das proteínas do leite de vaca, algumas crianças podem desenvolver alergia às proteínas da soja, que, neste caso, devem também ser retiradas da dieta(7).
Durante o período de exclusão do leite de vaca e seus derivados, o profissional de saúde deve orientar os familiares ou responsáveis a estarem atentos à leitura dos rótulos dos produtos industrializados, antes de os oferecerem aos seus filhos. As fórmulas específicas para substituir o leite de vaca e o uso de suplementos de vitaminas e minerais devem ser prescritos a fim de que seja oferecida uma dieta isenta do componente alergênico, mas nutricionalmente adequada(9).
Pelo fato do leite de vaca ser importante fonte de nutrientes, como já mencionado, a sua eliminação da dieta sem adequada substituição pode prejudicar o crescimento normal e a qualidade nutricional da dieta(10,11). Dessa forma, tão importante quanto a orientação aos pais é a avaliação da ingestão alimentar e do estado nutricional das crianças durante a dieta de exclusão. Esta necessidade é reforçada pelos resultados de estudos que demonstram menor ingestão de energia(11) e nutrientes, principalmente o cálcio, em crianças com alergia às proteínas do leite de vaca, quando comparadas a crianças sem alergia(4,11-15).
O objetivo deste estudo é descrever os conhecimentos de pediatras e nutricionistas com relação à dieta de exclusão do leite de vaca e seus derivados, com ênfase em questões relacionadas à nutrição da criança submetida a esta terapêutica.

métodos

Trata-se de um estudo transversal descritivo, envolvendo amostra de conveniência constituída por 53 pediatras e 29 nutricionistas escolhidos aleatoriamente em três hospitais públicos do Município de São Paulo, no período de janeiro a dezembro de 2005.
Na amostra selecionada, foram incluídos médicos residentes em pediatria e pediatras (gerais ou especialistas). Os nutricionistas selecionados atuavam na área clínica, hospitalar e/ou ambulatorial, não sendo incluídos os nutricionistas com atuação exclusiva na área de produção de alimentos.
O instrumento utilizado para a coleta de dados de ambos os profissionais foi um mesmo questionário auto-administrado, que constava de uma parte inicial de identificação, com informações sobre sexo, idade, tempo de graduação e grau de especialização. A segunda parte era constituída por perguntas de múltipla escolha sobre o tratamento de lactentes com alergia às proteínas do leite de vaca, incluindo as seguintes questões:
       Quais dos seguintes produtos podem ser utilizados na dieta de exclusão de lactentes com quadro de alergia às proteínas do leite de vaca, podendo assinalar mais de uma opção: 1. fórmula à base de hidrolisado protéico;
2. fórmula à base de proteína de soja; 3. leite de cabra; 4. bebida/suco à base de extrato de soja; 5. fórmula láctea sem lactose; 6. fórmula à base de aminoácidos e 7. fórmula láctea parcialmente hidrolisada. Em todas as opções foram dados exemplos de seus nomes comerciais.
       Na sua rotina de atendimento, as crianças com alergia às proteínas do leite de vaca são avaliadas e orientadas por nutricionistas? (Sim/Não). Está questão foi formulada somente para os pediatras.
       Ao consultar uma criança em dieta isenta de proteína do leite de vaca, faz parte da sua rotina avaliar a sua dieta? (Sim/Não). No caso de resposta afirmativa, seguia-se a questão: Você realiza cálculo da ingestão alimentar destas crianças? (Sim/Não). 
       Você adota algum padrão de recomendação de ingestão de nutrientes (por exemplo, a RDA – Recommended Dietary Allowance, ou a DRI – Dietary Recommended Intake(16-17)) para avaliar a adequação da dieta de crianças em dieta isenta de proteína do leite de vaca? (Sim/Não). Se a resposta for sim, qual das recomendações para nutrientes você utiliza com maior freqüência: RDA, DRI ou outras.
       Assinale a recomendação de ingestão diária de cálcio (mg/dia) para as seguintes faixas etárias, devendo escolher apenas uma opção para cada faixa etária: 0-6 meses: 210mg, 400mg, 800mg, 950mg, não sei, outro; 7-12 meses: 270mg, 600mg, 1000mg, 1300mg, não sei, outro; 13-36 meses: 500mg, 800mg, 1300mg, 1500mg, não sei, outro.
       Qual dos itens deve ser retirado da dieta de crianças com diagnóstico de alergia às proteínas do leite de vaca, devendo escolher somente uma alternativa: 1. soja; 2. leite de vaca; 3. caseína; 4. leite de vaca, derivados do leite e preparações que contenham leite; 5. leite de vaca e todos os seus derivados; 6. queijos e iogurtes.
       Você faz alguma orientação para os pais/responsáveis de crianças com alergia às proteínas do leite de vaca sobre a leitura de rótulos de produtos industrializados? (Sim/Não). Se a resposta for sim, como você faz esta orientação sobre a leitura de rótulos? 1. Você orienta que deve ser observada a presença do termo leite e de outros termos como, por exemplo, lacto-albumina, caseína, frações do leite, queijo e manteiga; 2. Você orienta que deve ser observado apenas a presença do termo leite nos ingredientes do produto; 3. Outro tipo de orientação.
A terceira parte do questionário trazia perguntas sobre conceitos relacionados ao tratamento da alergia às proteínas do leite de vaca, nas quais o entrevistado deveria assinalar “concordo”, “discordo” ou “desconheço”. Foram abordados os seguintes tópicos:
       Em uma criança com alergia ao leite de vaca, deve-se também eliminar da dieta outros alimentos alergênicos como, por exemplo, soja, ovos, peixe, amendoim, como uma medida preventiva, a fim de evitar que possam ocorrer outras reações.
       Lactentes em aleitamento materno exclusivo podem desenvolver alergia ao leite de vaca.
       A introdução precoce do leite de vaca aumenta o risco de desenvolvimento da alergia ao leite de vaca.
       Leite de cabra ou de qualquer outro animal (ovelha, jumenta e outros) pode ser utilizado como substituto do leite de vaca para crianças com alergia ao leite de vaca.
       Pacientes com intolerância à lactose devem excluir de sua dieta todos os alimentos que contenham proteínas do leite de vaca.
O questionário descrito foi elaborado pelos autores, avaliado e reestruturado após a realização de um projeto piloto com 30 profissionais.
Para a análise dos resultados, foram utilizados os testes exato de Fisher e do qui-quadrado, empregando o programa Sigma Stat(18). O nível de significância foi estabelecido em 5% ou 0,05.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sendo obtido consentimento esclarecido por escrito de todos os participantes.

Resultados

tabela 1 – Características gerais dos pediatras e nutricionistas

Pediatra (n=53)
Nutricionista (n=29)
p
Sexo feminino
40 (75,5%)
29 (100,0%)
0,003
Idade <30 anos*
22/50 (44,0%)
22/27 (81,5%)
0,003
Tempo de graduação <5 anos*
14/52 (27,0%)
19/28 (68,0%)
0,0009
Grau máximo de pós-graduação senso lato ou stricto+
Especialização e/ou residência médica em pediatria incompleta
Especialização e/ou residência em pediatria completa
17
36
13
10

Mestrado incompleto
Mestrado completo
02
04
06
00

Doutorado incompleto
Doutorado completo
00
02
00
00

Sem pós-graduação
00
04

Mais de uma pós-graduação
08
04

*Um ou mais entrevistados não responderam a questão; +entrevistados possuíam mais de um tipo de pós-graduação
As características gerais da população estudada encontram-se na Tabela 1. Observa-se que a proporção de nutricionistas do sexo feminino, com idade inferior a 30 anos e tempo de formação menor que cinco anos foi superior à dos pediatras. Em relação ao grau máximo de pós-graduação, 95% dos profissionais possuíam especialização, mestrado e/ou doutorado. Deve ser ressaltado que 41,2% dos profissionais eram formados a menos de cinco anos.
No Gráfico 1, observa-se que produtos como leite de cabra, fórmula láctea sem lactose e fórmula láctea parcialmente hidrolisada, que não são recomendados para o tratamento da alergia às proteínas do leite de vaca, foram considerados adequados por alguns profissionais. Também se observa a indicação de uso de bebidas à base de extrato de soja como substituto do leite de vaca por 44% dos profissionais entrevistados. Nota-se que 66% (35/53) dos pediatras e 48,3% (14/29) dos nutricionistas (p=0,18) prescreveriam pelo menos um produto considerado inadequado para o tratamento da alergia ao leite de vaca, dentre os seguintes: bebidas/sucos à base de extrato de soja, leite de cabra, fórmula láctea sem lactose e fórmula láctea parcialmente hidrolisada. Além disso, constata-se que cerca de 25 e 40% dos profissionais não apontaram, respectivamente, as fórmulas à base de hidrolisado protéico e fórmulas à base de aminoácidos como opções terapêuticas.
Gráfico 1 – Percentagem de pediatras e nutricionistas que recomendam produtos como substitutos do leite de vaca
Tabela 2 – Tipo de avaliação dietética realizada, adoção de padrão de recomendação de ingestão de nutrientes e recomendação da ingestão de cálcio

Pediatra (n= 53)
Nutricionista (n= 29)
p
Realiza avaliação qualitativa da dieta
51 (96,0%)
29 (100,0%)
  0,537
Realiza avaliação quantitativa da dieta
14/50 (28,0%)
24  (82,7%)
<0,001
Adota padrão de recomendação de nutrientes*
7/52 (13,5%)
24/28  (85,7%)
<0,001
Utiliza a RDA
4/7   (7,6%)
6/24  (21,4%)

Utiliza a DRI
3/7   (5,7%)
17/24  (60,7%)

Utiliza a RDA e a DRI
0/7   (0,0%)
1/24    (3,5%)

Conhecimento da recomendação de ingestão de cálcio (RDA ou DRI)
0-6 meses
19/50 (38,0%)
18/28  (64,0%)
  0,046
7-12 meses
23/48 (48,0%)
21/28  (75,0%)
  0,039
13-36 meses
16/48 (33,0%)
23/28  (82,0%)
<0,001
*Um nutricionista não respondeu; RDA: Recommended Dietary Allowance; DRI: Dietary Recommended Intakes
Na rotina de atendimento, 52,8% dos pediatras confirmaram que crianças com alergia às proteínas do leite de vaca são avaliadas e orientadas por nutricionistas. Na Tabela 2 são apresentadas as respostas relativas à forma de avaliação da alimentação das crianças em dieta isenta de proteínas do leite de vaca. A maioria dos profissionais (97,6%) afirma realizar, rotineiramente, a avaliação da dieta. Essa porcentagem diminui expressivamente, principalmente em relação aos pediatras, quando questionados se avaliam a dieta com mais detalhamento, incluindo o cálculo dietético quantitativo da ingestão de energia, macro e micronutrientes. Quanto ao cálculo dietético, observa-se também proporção maior de nutricionistas, em relação aos pediatras, que adotam algum padrão de referência para analisar a quantidade de cada nutriente na dieta da criança (Tabela 2).
Com relação ao conhecimento da recomendação de ingestão diária de cálcio (mg/dia) para crianças com até 36 meses, foram considerados corretos os valores recomendados tanto pela RDA(16) quanto pela DRI(17). O número de acertos por faixa etária pode ser verificado na Tabela 2. Quando avaliado o número de profissionais que responderam corretamente, apenas 22% dos pediatras e 60,7% dos nutricionistas (p=0,001) acertaram a recomendação de cálcio em todas as faixas etárias.
Questionados sobre os alimentos que devem ser excluídos durante o tratamento da alergia às proteínas do leite de vaca, 92,4% dos pediatras e 89,6% dos nutricionistas responderam corretamente a questão; porém, 20,7% dos pediatras e 17,2% dos nutricionistas limitam a exclusão da dieta ao leite de vaca e seus derivados, mas não mencionaram os produtos industrializados e as preparações que podem conter as proteínas do leite de vaca.
Com relação à leitura de rótulos de produtos industrializados, 81,6% dos pediatras e 96,4% dos nutricionistas orientam os pais e/ou responsáveis das crianças a observarem todos os termos que indicam a presença das proteínas do leite no produto.
Quanto à necessidade de eliminar da dieta de crianças com alergia às proteínas do leite de vaca outros alimentos alergênicos como soja, ovos, peixe e amendoim, 34% dos pediatras e 30% dos nutricionistas concordaram que esta conduta preventiva deva ser adotada a fim de que sejam evitadas alergias a outros alimentos.
Relacionado ao aleitamento materno, 75,4% dos pediatras e 62% dos nutricionistas concordam que lactentes podem desenvolver alergia ao leite de vaca mesmo estando em aleitamento materno exclusivo. Por outro lado, 88,6% dos pediatras e 93,1% dos nutricionistas concordam que a introdução precoce do leite de vaca pode aumentar o risco de desenvolvimento da alergia ao leite de vaca.
A afirmação de que leites de outros mamíferos poderiam ser utilizados como substitutos do leite de vaca para crianças com alergias às proteínas do leite foi aceito por 15,2% dos pediatras e 13,7% dos nutricionistas.
A intolerância à lactose, muitas vezes, é confundida com alergia às proteínas do leite de vaca. Nossos resultados mostraram que 30,8% dos pediatras e 17,2% dos nutricionistas consideram necessária a retirada de todos os alimentos que contenham as proteínas do leite de vaca nos casos de intolerância à lactose.

Discussão

A alergia às proteínas do leite de vaca desenvolve-se, principalmente, em crianças menores de dois anos(6,19), fase na qual o leite de vaca representa uma das principais ou única fonte de nutrientes. Assim, sua exclusão pode comprometer a qualidade nutricional da alimentação. Para lactentes, é difícil a substituição total do leite de vaca por alimentos sólidos(4), de modo que é necessário o uso de substitutos administrados em mamadeira para que a ingestão diária de energia e nutrientes seja adequada.
Durante a dieta de exclusão, preconiza-se a continuidade do aleitamento materno com a retirada das proteínas do leite de vaca da dieta materna. Entretanto, na impossibilidade de manutenção do leite materno, devem ser utilizadas fórmulas específicas em substituição ao leite de vaca(5,10). Segundo a recomendação da AAP, no ano 2000(20), fórmulas à base de soja podem ser prescritas para pacientes com reações mediadas por IgE, sem sintomas gastrintestinais e com idade superior a seis meses. Para os demais lactentes, recomendam-se fórmulas à base de hidrolisado protéico e, se não houver remissão dos sintomas, indicam-se as fórmulas à base de aminoácidos. A Sociedade Européia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição(21) não recomenda o uso de fórmulas à base de soja no início do tratamento; entretanto, em nosso estudo, verifica-se que grande parte dos profissionais indica o uso destas fórmulas como substitutos do leite de vaca na vigência de dieta de exclusão das proteínas do leite de vaca. Com relação às fórmulas a base de aminoácidos, é notável o percentual de profissionais em nosso estudo (40%) que não incluiu tal fórmula como opção terapêutica, visto que, nos casos mais graves, esta é a melhor alternativa.
Ambas as entidades recomendam a exclusão de qualquer produto ou fórmula que contenha a proteína intacta ou parcial do leite, além de leites de outras espécies, como cabra e ovelha, da dieta dos lactentes com alergia às proteínas do leite de vaca(20,21). No nosso estudo, alguns profissionais indicaram como substitutos adequados o leite de cabra, fórmulas lácteas sem lactose e fórmulas com proteínas lácteas parcialmente hidrolisadas, condutas inadequadas para o tratamento das alergias às proteínas do leite de vaca. Caso os sintomas desapareçam com a introdução de leite de cabra, por exemplo, deve-se considerar que, provavelmente, a hipótese diagnóstica de alergia às proteínas do leite de vaca não é correta, sendo necessário planejar a realização de teste de desencadeamento.
Bebidas ou sucos à base extrato de soja foram considerados por vários profissionais como possíveis substitutos ao leite de vaca. Existe, no mercado, uma série destes produtos com baixo custo se comparados às fórmulas à base de proteína de soja, o que estimula sua utilização na dieta de lactentes com alergia às proteínas do leite de vaca. Contudo, a maior parte destes produtos não são fortificados e/ou formulados especificamente para a faixa etária do lactente, o que pode ocasionar ingestão insuficiente de nutrientes, principalmente cálcio(11,22).
Para promover benefícios e manutenção à saúde, a alimentação deve ser avaliada sob aspecto qualitativo e quantitativo. A avaliação qualitativa, efetuada por grande parte dos profissionais entrevistados, possibilita uma visão geral dos nutrientes presentes na dieta, principalmente, dos grupos básicos de alimentos (carboidratos, lipídeos e proteínas). Todavia, durante a dieta de exclusão é fundamental uma avaliação detalhada da alimentação da criança, incluindo o cálculo dietético, possibilitando a detecção de ingestão deficiente ou excessiva de macro e micronutrientes, tendo como base um padrão de referência, por exemplo, a RDA(16) ou a DRI(17). Especificamente em indivíduos submetidos a esta terapêutica, tal cálculo será a base para modificações na conduta, como adequações no volume de fórmula a ser administrada e dose de suplemento de cálcio a ser prescrito. Ao comparar a ingestão de nutrientes de crianças com alergia às proteínas do leite de vaca e crianças saudáveis, diversos estudo demonstram baixa ingestão de proteínas(4,11,14), energia, lipídeos(11) e cálcio(4,11,14,22-24), entre outros minerais e vitaminas(4,14,24).
Observamos que a proporção de pediatras, em relação às nutricionistas, que adota um padrão de recomendação de nutrientes é significantemente menor; no entanto, este resultado é esperado, visto que avaliar a dieta quantitativamente é uma das atribuições do nutricionista. Para tal, é necessário utilizar um padrão de referência para avaliar a ingestão diária de nutrientes. Com relação ao conhecimento sobre a recomendação da ingestão diária de cálcio, ambos os profissionais não responderam corretamente a quantidade preconizada em todas as faixas etárias questionadas. O cálcio é um dos principais nutrientes passíveis de carência na dieta de exclusão, pois a principal fonte deste mineral na dieta é o leite de vaca e seus derivados. Logo, é importante encorajar a adoção de um padrão de recomendação de nutrientes pelos profissionais, a fim de auxiliar na avaliação da dieta e na prescrição de suplementos, principalmente de cálcio.
As recomendações específicas da ingestão de cálcio por faixa etária, de acordo com a RDA, são: 400mg para menores de seis meses, 600mg entre os sete e 12 meses e 800mg dos 13 aos 36 meses. As DRIs, baseadas na ingestão adequada (“adequate intake”), definem, para estas faixas etárias, os seguintes valores, respectivamente: 210mg, 270mg e 500mg. Tais foram os valores considerados corretos na questão que avaliava o conhecimento dos profissionais estudados, ou seja, aceitou-se como correto as respostas de ambas as recomendações (RDA e DRI).
Na prática, existe a tendência a optar pelas DRIs; todavia, devido aos diferentes valores de recomendação para cálcio encontrados nos diversos guias, cabe ao profissional analisar e selecionar qual das recomendações melhor representa o consumo ideal de seu paciente. Segue, no Anexo Final, um exemplo prático de cálculo para suplementar ou adequar à ingestão de cálcio.
Familiares de crianças submetidas à dieta de exclusão das proteínas do leite de vaca devem ser orientados constantemente sobre os alimentos a serem retirados da dieta, já que, com o avançar da idade, a dieta da criança torna-se mais variada, muitas vezes pela introdução de alimentos industrializados. É importante que a orientação não se limite a: “exclua o leite de vaca e seus derivados”. O profissional de saúde deve orientar os familiares a excluir todos os alimentos e preparações que contenham proteínas do leite de vaca, enfatizando a importância da leitura dos rótulos dos produtos industrializados(9). Ao avaliarem a capacidade de pais de crianças com alergia às proteínas do leite de vaca para identificar a presença de leite na composição de produtos industrializados, Joshi et al(25) observaram que poucos foram capazes de identificar todos os rótulos que indicavam a presença de leite. Este dado mostra a relevância da orientação sobre a forma de interpretar corretamente a lista dos ingredientes que compõem os produtos industrializados. Em nosso questionário, é provável que as respostas obtidas sobre a orientação aos pais/responsáveis em relação à leitura de rótulos dos produtos industrializados tenham sido superestimadas, visto que, ao questionar um profissional sobre uma conduta que o bom senso induz a considera-lá apropriada, automaticamente, o profissional se sente na obrigação de introduzi-la em sua conduta, mesmo que não a empregue rotineiramente. 
Em relação à eliminação preventiva de outros alimentos alergênicos como soja, ovos, peixe e amendoim da dieta de crianças com alergia às proteínas do leite de vaca, ainda há controvérsias na literatura. Contudo, se julgada necessária, deve ser realizada com cautela para que a dieta de exclusão não se torne ainda mais restritiva, aumentando a probabilidade de déficits nutricionais. A AAP(20) recomenda a retirada destes produtos da dieta, tanto para a nutriz, no caso de aleitamento materno, como para as crianças em tratamento de alergia ao leite de vaca. Por outro lado, a Sociedade Européia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição(21) não recomenda a exclusão de outros alimentos, além da proteína alergênica. Portanto, para este quesito, ambas as respostas encontram respaldo na literatura.
A alergia às proteínas do leite de vaca e a intolerância à lactose podem ser confundidas com certa freqüência, o que gera condutas terapêuticas equivocadas. A exclusão de todos os alimentos que contêm proteínas do leite de vaca é a terapêutica adotada nos casos de alergia, pois o fator desencadeante das reações alérgicas é a presença das proteínas do leite. Por outro lado, na intolerância à lactose, o foco não deve ser as proteínas do leite, mas sim o carboidrato: a lactose. É preciso observar a tolerância individual, isto é, a quantidade de lactose que o indivíduo pode ingerir sem apresentar sintomatologia, não sendo necessária a exclusão obrigatória e total do leite e de seus derivados(26-27).
Considerando que a amostragem de conveniência avaliada neste inquérito foi constituída em três hospitais, onde se desenvolvem atividades de ensino, os resultados deste estudo não podem ser generalizados para a população total de médicos pediatras e nutricionistas. Outro ponto que sustenta esta suposição relaciona-se ao alto grau de pós-graduação dentre os profissionais incluídos no estudo, conforme Tabela

Anexo final

1, apesar do pouco tempo de graduação. Portanto, o grupo de profissionais incluídos em nosso estudo provavelmente possui conhecimentos mais completos e adequados sobre o tratamento da alergia ao leite de vaca do que a maioria dos outros profissionais.
Exemplos práticos de cálculos para suplementar e/ou complementar as recomendações de 500mg/dia de cálcio baseado nas DRIs.
exemplo 1: Um paciente de 15 meses que recebe 450mL de fórmula de hidrolisado de proteína, além de outros alimentos, necessita ou não de suplementação de cálcio?
As fórmulas à base de hidrolisado protéico existentes no mercado contêm, em média, 400mg de cálcio em 100g de pó do produto. A fórmula preparada com 5g para cada 30mL fornecerá 300mg de cálcio. Considerando que os demais alimentos da dieta da criança contêm 100mg de cálcio, deverão ser suplementados 100mg de cálcio ou aumentar a oferta de fórmula de hidrolisado de proteína em 150mL.
exemplo 2: Um paciente de 24 meses que recebe 420mL de fórmula à base de soja, além de outros alimentos, necessita ou não de suplementação de cálcio?
As fórmulas à base de soja contêm em média 437,5mg de cálcio em 100g de pó do produto. A fórmula preparada com 5g de pó para cada 30mL fornecerá 306mg de cálcio. Considerando que os demais alimentos da dieta da criança contêm em média 100mg de cálcio, deverão ser suplementados, aproximadamente, 100mg de cálcio ou aumentar a oferta de fórmula à base de soja em 140mL.
No entanto, mesmo com as ponderações acima apresentadas, nossos resultados permitiram concluir que os profissionais entrevistados, pediatras e nutricionistas, demonstraram erro nos conceitos das principais recomendações terapêuticas da alergia às proteínas do leite de vaca, assim como houve falta de conhecimento, especialmente por parte dos pediatras, em relação às necessidades de cálcio para os lactentes. As discordâncias observadas em algumas orientações ou condutas ressaltam a necessidade de se elaborar estratégias educacionais que ampliem os conhecimentos destes profissionais, visando evitar a recomendação de dietas de exclusão sem efetividade ou a ocorrência de déficits nutricionais por dietas que não preencham as necessidades nutricionais do lactente.
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[1] Mestranda do programa de pós-graduação em Nutrição da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp)
[2] Doutoranda do programa de pós-graduação em Nutrição da Unifesp
[3] Professora visitante da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Unifesp 4Médica assistente e mestre da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Unifesp
[4] Professor titular da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica e reitor da Unifesp
[5] Professor associado e livre-docente da Disciplina de Gastroenterologia
Pediátrica da Unifesp