[1]
RESUMO. A partir da perspectiva fenomenológica, procurou-se
compreender como os pacientes ostomizados vivenciam a corporeidade. Foram
entrevistados dez pacientes que realizavam tratamento em um hospital oncológico
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Belo Horizonte, MG. As narrativas dos
sujeitos falaram do significado do câncer para eles, do sentido que atribuíam à
bolsa de colostomia, das limitações advindas do processo de adoecer e do papel
da religiosidade neste percurso. A vivência do cuidado foi discutida a partir
da perspectiva heideggeriana, considerando-se os conceitos de corporeidade,
indigência e potência. As indigências, representadas pelas limitações, e as
potências, representadas pelos cuidados de si, com o outro e pelo outro apontam
para a necessidade da promoção da autonomia e da qualidade de vida, através da
ressignificação do processo saúde-doença. Palavras-chave: Fenomenologia; corpo; câncer.
THE SENSES OF CORPOREALITY
IN OSTIMIES CANCER
ABSTRACT. From the phenomenological perspective, we sought to
understand how patients experience the ostomates embodiment. We interviewed 10
patients who were undergoing treatment at the cancer hospital by the Unified
Health System (SUS) in Belo Horizonte, MG, Brazil. The narratives of the
subjects pointed to the significance of cancer, the meaning attributed
to the colostomy bag, to the limitations caused by the process of disease and
the role of religion in this context. The experience of care was discussed from
the perspective of Heidegger considering the concepts of embodiment, indigence and potency.
The indigence, represented by the limitations and potency, represented by the
care of oneself, others and the other pointing to the need for the promotion of
independence and quality of life through re-signification of the health-illness
condition. Key words: Phenomenology,
body, cancer.
LOS SENTIDOS DE REALIZACIÓN EN EL CÁNCER DE
OSTOMIZADOS
RESUMEN. Desde la perspectiva
fenomenológico, que buscó comprender cómo los pacientes ostomizados experiencia
de la encarnación. Entrevistamos a 10 pacientes que fueron sometidos a
tratamiento en un hospital de cáncer en el Sistema Único de Salud (SUS) en Belo
Horizonte, MG, Brasil. Las narraciones de los sujetos señalaron la importancia
de cáncer, el significado atribuido a la bolsa de colostomía, a las
limitaciones causadas por el proceso de la enfermedad y el papel de la religión
en este contexto. La experiencia de la atención fue discutida desde la
perspectiva de Heidegger teniendo en cuenta los conceptos de la corporalidad,
la indigencia y la potencia. La indigencia, representada por las limitaciones y
facultades, representada por el cuidado de uno mismo, com los otros y la otra
que apunta a la necesidad de promoción de la autonomía y de la calidad de vida
mediante la resignificación de la condición de salud. Palabras-clave: Fenomenología, el cuerpo, el
cáncer.
O câncer de cólon e de reto,
segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), constitui a terceira
causa mais comum de câncer a nível mundial em ambos os gêneros, com
aproximadamente 2,4 milhões de pacientes vivos. No Brasil, estimam-se, para o
ano de 2010, 13.310 novos casos em homens e 14.800 em mulheres. Em Minas Gerais
este tipo de câncer ocupa a quarta colocação, com 1.040 novos casos para a
população masculina, e a terceira forma mais comum de câncer em mulheres, apresentando
1.210 casos novos (INCA, 2010).
Entre as opções de tratamento para o câncer colorretal, a
ostomia é o procedimento cirúrgico em que é realizada a exteriorização do
cólon. Quando não há a possibilidade de restabelecer o trânsito intestinal
utiliza-se a bolsa de colostomia, externa ao corpo.
O diagnóstico de câncer leva o sujeito a adentrar no mundo
da doença e tratamentos e, com a ostomia, seu corpo muda juntamente com sua
existência. Em pesquisa com mulheres portadoras de câncer de mama, Venâncio
(2004) ressalta que quanto maior a mutilação, mais traumáticas são as sequelas
psicológicas, uma vez que a alteração da imagem corporal gera alterações
significativas na existência do sujeito. Assim, desalojada da habitualidade, a
pessoa sente que seu ser se rompe e percebe que não está apegado a nada, nem
mesmo às representações de si que construiu ao longo de sua existência (Silva,
2006).
Michelazzo (2003), baseado no existencialismo de Martin
Heidegger, propõe que o corpo deve ser considerado com algo além do material,
algo que diz respeito à existência, enquanto corporeidade é sercorpo, pois é
através do corpo que a existência pode se manifestar.
A corporeidade é aquilo que, na
perspectiva heideggeriana, mostra-nos que existir é ao mesmo tempo indigência e
potência. A condição de indigência caracteriza-se pelas experiências de
necessidade e de limitação, enquanto a potência se expressa a partir do
poder-fazer, do realizar humano. Dessa forma a corporeidade diz respeito ao
corpo vivenciado e está intrinsecamente ligada à temporalidade e à
espacialidade, como constituinte do modo fundamental do ser-no-mundo. Dessa
forma, fazer uma fenomenologia da corporeidade não é descrever o corpo, mas
buscar a qualidade da experiência que está relacionada com a questão do corpo
(Pompéia, 2003).
Ser-corpo é constituinte do existir, sendo a
corporeidade um caráter fundamental do homem, inseparável dele e integrante de
suas relações com o mundo. O uso da bolsa de colostomia pode ser considerado
como uma nova forma de se relacionar com o mundo, no espaço e tempo
vivenciados, em que os pacientes com câncer colorretal percebem sua nova
concepção de corpo e seu sentido.
Ao se considerar que a forma de ser no mundo é corporal,
coloca-se que esta manifestação transcende o biológico, estando presente também
nas esferas emocional, social, espiritual e cultural, em que podemos dizer que
“somos” corpo. Assim, cuidar do corpo é cuidar de si, do outro, do mundo, da
existência em sua totalidade (Silva, 2006).
Os significados e as interpretações acerca do câncer
interferem no processo de enfrentamento e na adaptação do paciente às
diferentes fases do tratamento e da doença (Gimenes, 1998). Dessa forma,
buscou-se compreender como os sujeitos portadores de bolsa de colostomia,
devido ao tratamento de câncer colorretal, vivenciam a nova condição
existencial.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em um hospital que atende
pacientes oncológicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), localizado na cidade
de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Foram entrevistados pacientes de ambos os gêneros, com
idade entre 42 e 70 anos e recémoperados, que convivem com a bolsa de
colostomia há pelo menos dois anos. As entrevistas seguiram um roteiro
semiestruturado e focalizaram as vivências de corpo antes e após a colocação da
bolsa de colostomia, as relações interpessoais, o significado do adoecimento e
da bolsa e o cuidado. As entrevistas foram interrompidas seguindo-se o critério
de saturação e singularidade dos discursos, conforme propõe Minayo (2007). Os
entrevistados foram esclarecidos sobre a confidencialidade das informações
prestadas. Para manter o sigilo das identidades foram atribuídos aos
entrevistados nomes de flores. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro de Pesquisa René Rachou – Fundação Oswaldo Cruz (Parecer
07/2009) e pelo Comitê de ética em Pesquisa da instituição (Parecer 48/2009),
considerando-se o disposto na Resolução 196/96, que dispõe sobre diretrizes
para pesquisas em seres humanos no Brasil (Brasil, 1996).
Na análise, realizada à luz da metodologia fenomenológica,
foram buscadas as descrições organizadas do que está sendo vivido pelo sujeito
e avaliados seus discursos para descrever os significados, conforme recomendado
por Feijoo (1999). Assim,
foram construídas as seguintes categorias analíticas: O significado do câncer;
Os sentidos atribuídos à bolsa de colostomia; As limitações impostas pelo
adoecimento e tratamento; O cuidado; e A religiosidade.
O significado do câncer
[1] Apoio: CNPq e FAPEMIG
[2] Graduanda em Psicologia.
Bolsista de Iniciação Científica CNPq no Centro de Pesquisas René Rachou/
Fundação Oswaldo Cruz – Minas Gerais.
[3] Psicóloga, Mestranda em
Ciências da Saúde pelo Centro de
Pesquisas René Rachou/ Fundação Oswaldo Cruz – Minas Gerais..
[4] Psicóloga, Doutora em
Educação. Chefe do Laboratório de Educação em Saúde e Ambiente do Centro de
Pesquisa René Rachou/ Fundação Oswaldo Cruz – Minas Gerais.
[5] Psicóloga, Pós-doutora em Saúde Coletiva.
Pesquisadora visitante do Laboratório de Educação em Saúde e Ambiente do Centro
de Pesquisa René Rachou/ Fundação Oswaldo Cruz – Minas Gerais.
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