* Quality of life in patients
stomized: a comparison between carriers ofcolorectal neoplasms and other
pathologies
Eliete
Cristina Borges**
Glauce
Cristina Camargo**
Marcos
Oliveira Souza**
Natália
Ayres Pontual**
Tatiana de
Sá Novato***
ResumoIntrodução – Acreditando-se que a
qualidade de vida (QV) seja alterada em decorrência da
presença de
um estoma intestinal e que essa QV seja pior quando se trata de um indivíduo
ostomizado por câncer colorretal, o estudo em questão avaliou as dificuldades
enfrentadas pelas por outras patologias. Material e Métodos – Analisou-se 59
indivíduos, portadores de ostomia há mudanças no estilo de vida dos portadores
de ostomia, em decorrência do câncer colorretal ou
mais de duas
semanas, com idade a partir de 18 anos, atendidos no Núcleo de Ostomizados do
Conjunto Hospitalar de Sorocaba – SP, durante os meses de outubro e novembro de
2006. A abordagem foi de caráter quantitativo, de corte transversal e de
aspecto retrospectivo. Os instrumentos de coleta utilizados foram: WHOQOL–bref,
específico de avaliação de QV, criado pela
Resultados –
Observou-se que a satisfaçãoConclusõesna QV dos indivíduos ostomizados não era
alterada OMS; instrumento de dados psico-sócio-demográfico, com o intuito de
caracterizar a amostra.
em decorrência do câncer colorretal. – Conclui–se que a mensuração do impacto da doença na QV dos indivíduos torna-se cada vez mais importante, e que a necessidade de um tratamento por um longo período como a ostomização, mesmo quando há presença de doença crônica, como o câncer colorretal, não representa necessariamente o fim da vida destes pacientes.
Palavras-chave:
Qualidade de vida; Ostomia, enfermagem; Neoplasias colorretais
AbstractIntroduction – Believing that the
quality of life (QV) either modified result of the intestinal pre-
sence
of one ostomy and that this QV either more worse when if deals with an
individual stomized for colorectal neoplasms, the study in question evaluated
the difficulties faced for the changes in
gies.
Material and Methods – We analyze 59 individuals, ostomy carriers has more than
two the style of life of the ostomy carriers, in result of the colorectal
neoplasms or for other patholo-
weeks,
with age from 18 years, taken care of in the Nucleus of Ostomizados of the
Hospital Set of Sorocaba – SP, during the months of October and November of
2006. The boarding was of quantitative character, transversal cut and
retrospective aspect. The used instruments of collection demographic instrument
of data, with intention to characterize the sample. Results – We observe had
been: WHOQOL-bref, specific of QV evaluation, created for the OMS;
psycho-partner-
colorectal
neoplasms. Conclusions – One concludes that the mensuration of the impact of
the that the satisfaction in the QV of the stomized individuals was not
modified in result of the
illness in
the QV of the individuals becomes each more important time, and that the
necessity of a treatment for a long period as the ostomy, exactly when it has
presence of chronic illness, as the colorectal neoplasms, necessarily does not
represent the end of the life of these patients.
Key words:
Quality of life; Ostomy, nursing; Colorectal neoplasms
Introdução
Qualidade
de vida
A qualidade de vida (QV) tem sido incessantemente pleiteada pelo homem
moderno em diferentes contextos e cenários da vida humana. O tema tem sido
foco de
|
pesquisas e cada vez mais, artigos científicos a
respeito do tema são publicados, com o intuito de descobrir quais são os
aspectos, positivos ou negativos, que poderiam influenciar a QV.
Que conceito é esse que se busca? Seria o simples
fato de não estar doente ou talvez saber se adequar a uma doença? A busca
desta conceituação é antiga.
|
* Trabalho de Conclusão do Curso de Enfermagem da
Universidade Paulista (UNIP) – Sorocaba.
** Graduandas do 8º semestre do Curso de Enfermagem da UNIP -
Sorocaba.
*** Mestre em Enfermagem na Saúde do Adulto pela Universidade
de São Paulo (USP). Professora do Curso de Enfermagem da UNIP.
Muitos autores já
atribuíram diferentes conceitos a este construto.
Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) recomendava que a
felicidade era o supremo fim para que existisse a boa vida, hoje entendida como
QV. Comênio (1592 – 1670) relatava que ter qualidade de vida era gozar de boa
higiene, educação e viver de forma a prolongar sua existência24,28.
O termo Qualidade de Vida (QV)
começou a ganhar grande enfoque a partir da Segunda Guerra Mundial, quando o
presidente norte-americano Lyndon Johnson, buscou como meta política, não só o
progresso econômico, mas também social e ambiental, porque considerou que estes
passariam a interferir de forma significativa no bem-estar da humanidade. Foi
quando surgiu a necessidade de uma conceituação clássica para QV24,28.
Em 1974, surge a
definição de que QV só seria alcançada se obtivessem o prazer e satisfação24.
Campbell* (1976) apud Cella e Tulsky6 (1990)
e Seidl e Zannon30 (2004)
relatou que QV é algo que muitos indivíduos buscam mas poucos conseguem
alcançar por não entender a essência deste termo.
Segundo Minayo et al.23 (2000), a QV é
uma sublime idéia que acompanha os indivíduos quando estes percebem que fatores
como: a família, o convívio social e até mesmo, sua auto-estima estão em
harmonia. Estes autores, além de conceituar QV, qualificou-a como boa ou
excelente quando há condições para que os indivíduos possam desenvolver em
excelência suas potencialidades.
Santos e Kimura28 (2002)
acreditaram que a abordagem pode ser facilitada a partir do momento que se
desmembra a expressão QV em qualidade/vida. Sendo que qualidade está relacionada
aos aspectos positivos e negativos do indivíduo; e vida é algo difícil de
definir por se tratar de um conceito infinito.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
conceitua QV como: “a percepção do indivíduo acerca de sua posição na vida, no
contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais vive em relação aos
seus objetivos pessoais”12-14.
Dessa forma Santos e Kimura28 (2002)
ressaltaram que durante a avaliação da qualidade de vida, alguns fatores devem
ser observados, por interferirem de modo significativo, na percepção dos
indivíduos sobre este construto.
Estes fatores podem ser denominados subjetivos como,
bem-estar, dor, satisfação no trabalho, entre outros. Quando não relatados, são
definidos como objetivos, são exemplos: rendimento familiar, consumo alimentar,
população abaixo da linha de pobreza e outras25,28,30.
Como se observa
ao decorrer desta introdução, a qualidade de vida (QV) é bastante abrangente,
de forma que, na maioria das vezes é influenciada pelos desejos e anseios de
cada ser humano25,28,30.
Nas últimas décadas avanços tecnológicos surgiram como meio
de se prolongar a vida dos homens, e, a busca pela compreensão da qualidade de
vida destes indivíduos culminou com a publicação intensiva de artigos de
avaliação da QV na literatura científica internacional25.
Entretanto, a crítica de que a saúde ou a
doença não são os únicos aspectos que constituem o construto QV fez com que
surgisse a preocupação em se aplicar o termo Qualidade de Vida Relacionada à
Saúde (QVRS) quando a avaliação da QV enfoca aspectos relacionados à
saúde/doença, tratamento e repercussões destes no cotidiano dos indivíduos29.
A avaliação da QV só é possível sob a
ótica do indivíduo avaliado e instrumentos genéricos e específicos foram
criados e validados para este fim4,7.
Os instrumentos específicos são destinados a mensurar
determinadas doenças e populações, e reflete de maneira individual, o impacto
que uma doença pode causar na vida de um indivíduo. Já os instrumentos
genéricos podem ser usados para medir o impacto de diversas doenças sobre a
vida de indivíduos, podem ser utilizados na população e tem como vantagem ser
passível de comparações entre indivíduos com patologias diferenciadas4,7.
Dentre os instrumentos genéricos, adaptados para a
cultura brasileira, mais conhecidos destacam-se: o SF36: Medical Outcomes Study
36 – Item Short Form (adaptado por Ciconelli em 1997); o instrumento da
Organização Mundial de Saúde (OMS), intitulado WHOQOL – 100 (adaptado por Fleck
et al. em 1997); o Quality of Life
Index de Ferrans and Powers (adaptado por Kimura em 1999); e o Flanagan’s
Quality of Life Scale (adaptado por Gonçalves em 1999)5,7,11-14,27.
Os instrumentos genéricos variam de acordo com: a
sua forma de aplicação, seu enfoque e sua extensão, e, têm por finalidade
avaliar a QV, tanto em pessoas saudáveis, ou não7,12-14.
Câncer
Câncer é uma doença temida, apesar de
existir inúmeras formas de tratamento esta doença traz o estigma das épocas
passadas, quando morriam muitas pessoas18,24.
O câncer é conhecido desde a
antiguidade, em relatos de Elbers (1500 a.C) que em um papiro, citava a doença
e seu tratamento com uso de ungüento e arsenial18,24.
O primeiro relato de cura do câncer consta no século
V, quando Domocedes (560 a.C), através de incisão e cauterização realizou o
procedimento em um câncer de mama18.
Hipócrates (460 – 375 a.C) usava descrições sobre
câncer de pele, mama, útero e órgãos internos, e utilizava o termo grego karkanios, que significa caranguejo,
para indicar tumoração crônica e proliferação, pois as células doentes
infiltravam nas células sadias como se fossem tentáculos18.
Galeno (131 – 203
d.C), médico romano da Era
Cristã, criador da teoria
humoral atribuía o aumento da bile negra como a causa do câncer18,24.
A partir de 1652, Rudbeck descobriu
os linfonodos, o que levou muitos cientistas a relacionarem o sistema linfático
como a causa do câncer32.
* Campbell (1976) apud Cella DF, Tulsky D. op. cit. ref. 6 e Seidl EMF, Zannon
CMLC. op. cit. ref. 29.
|
O primeiro a romper com as teorias hipocráticas, foi
Leônidas (180 d.C.), que ampliou o tratamento do câncer da mama, através da
ressecção dos tecidos sadios e cauterização18.
Sennert (1572 – 1697) e Lusitano (1642), partiram do
conceito de que o câncer era contagioso, sendo assim os doentes passaram a
serem isolados. Foi nessa época, que surgiu o primeiro hospital especializado,
em Rheines, na França (1740)18,24.
Com o decorrer do tempo, descobertas como: a circulação
sangüínea, a ausência de bile negra nos glóbulos vermelhos e a origem do câncer
cutâneo, por meio das autopsias, fizeram com que novas formas de descrever o
câncer surgissem18.
Nos dias atuais, a definição de
câncer é dada a um grupo de doenças que tem como característica a desordenada
multiplicação de células malignas, ou seja, “células normais que sofreram
alterações em seu DNA”. Quando essas células desenvolvem de forma agressiva e
incontrolável, formam os tumores malignos (neoplasias malignas), e quando
invadem células vizinhas e distantes, caracteriza-se metástase16-17,20.
Estima-se que no ano de 2006,
segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) do Ministério da Saúde, deverão
ocorrer mais de 472 mil casos novos, sendo 234 mil entre os homens e 238 mil
entre as mulheres. E os tumores de maior incidência na população brasileira
serão os de pele não melanoma (116 mil), mama feminina
(49 mil), próstata (47 mil), pulmão (27
mil) e cólon e reto
(25 mil)17.
As causas do
câncer são variadas e existem vários fatores que favorecem o seu
desenvolvimento. Pode-se citar como principais: predisposição genética, hábitos
alimentares, estilo de vida e condições ambientais9,1517,24.
O câncer pode
afetar diversos órgãos, dentre eles, o cólon e reto, que fazem parte do
intestino grosso, que tem por função absorver nutrientes e excretar substâncias
não aproveitadas pelo organismo em forma de fezes9,16-17,20.
A causa do câncer colorretal é
desconhecida, mas os fatores predisponentes à ocorrência deste câncer já são
conhecidos e incluem: a presença de histórico familiar de câncer, histórico de
câncer anterior, doença intestinal inflamatória, alimentação com grandes
quantidades de gordura, obesidade, indivíduos com idade superior a 50 anos de
idade15.
A maior
incidência de casos ocorre na faixa etária entre 50 e 70 anos, mas as
possibilidades de desenvolvimento já aumentam a partir dos 40 anos18.
Segundo estimativas publicadas pelo Instituto Nacional de
Câncer (INCA) em 2006, o câncer colorretal é apontado como o 5º tumor maligno
mais freqüente entre homens (com 11.390 casos novos) e 4º entre as mulheres
(13.970 casos novos); e este tipo de câncer irá superar o câncer de colo de
útero na região sudeste17.
O câncer colorretal, quando diagnosticado no estágio
inicial, tem grandes chances de cura, mais é dificultado pela ocorrência tardia
dos sintomas, uma vez que estes possam ser confundidos com outras patologias
que afetam o trato gastrintestinal16,20.
Apesar de alguns sinais como: a
mudança no hábito intestinal, início recente de constipação, aumento de flatos,
dor abdominal, vômitos, náuseas e astenia serem relacionados como sintomas do
câncer colorretal, o diagnóstico final somente será confirmado através de
exames complementares9,20,31.
Após o diagnóstico, a doença é
avaliada e classificada em estágios, de acordo com a extensão do tumor e sua
invasão nas camadas do intestino, a presença ou ausência de linfonodos e
metástases (estadiamento). E dependendo do grau de malignidade é traçado o
plano de tratamento que consiste: a radioterapia, a quimioterapia, a ressecção
cirúrgica do local afetado ou também usado em combinação9,20,31.
A ressecção cirúrgica do local afetado é o principal
tratamento para o câncer colorretal, e consiste na retirada do tumor, dos
linfonodos e também dos tecidos afetados. Se houver muito dano ao cólon, será
necessário a criação de um estoma intestinal31.
A ostomia é considerada uma efetiva terapêutica para o
câncer colorretal pelos profissionais de saúde, mas pelos pacientes portadores,
é considerada uma grave limitadora da QV.
Ostomia
Estoma, ostoma, estomia, ostomia
são palavras de origem grega cujo significado se traduz em “abertura” ou
“boca”, que é realizado através de um ato cirúrgico que exterioriza uma porção
do intestino para parede abdominal9,21.
Conforme o
segmento exteriorizado no intestino, as ostomias recebem denominações
diferenciadas: no intestino grosso (cólon), colostomia e no intestino delgado,
ileostomia21.
Historicamente,
as ostomias são provenientes do séc. XVII, em que foram descritos relatos
(Lorenz Heister) de soldados feridos na região do intestino, durante batalha, e
sobreviveram graças a enterostomia10.
Sabe se, porém
que o primeiro estoma bem sucedido fora uma colostomia realizada por Duret
(1793), em uma criança com o ânus imperfurado3.
Czerny, em 1883,
realizou a colostomia como tratamento do câncer colorretal e no mesmo ano,
Madeyl criou a colostomia em alça com bastão3.
Anos se passaram
até Block (1892) descrever a colostomia em duas bocas. Mayo (1904) e Miles
(1908) criaram a primeira colostomia definitiva e surge a preocupação de como
seriam coletados os resíduos3.
Há relatos na França em 1795, de
um fazendeiro ter usado uma bolsa de couro para coletar as fezes e assim
sucessivamente outros dispositivos interessantes surgiram, como: sacos de pão,
latas de atum, caixas de alumínio. E com eles, a preocupação com o cuidado da
pele exteriorizada, que para prevenir lesões, eram utilizados talco e amido; e
para minimizar odores: perfume, bicabornato de sódio, vanila e extrato de menta1.
Atualmente, já existem técnicas
cirúrgicas adequadas e produtos com tecnologia para tratar a pele e o descarte
dos resíduos do paciente ostomizado.
Hoje, as indicações que levam um
indivíduo a necessitar de uma cirurgia reparadora, que crie um novo caminho
sempre que a passagem das fezes forem ocluídas, são diversas e entre elas
pode-se destacar doenças como: o câncer colorretal, a diverticulite, os traumas
abdominais, a colite isquêmica, os polipose adenomatosa, entre algumas outras3,9,26.
Dependendo da etiologia e do grau
de comprometimento da doença, o cirurgião indicará a realização de uma ostomia,
que poderá ser de caráter provisório, como em casos de perfuração intestinal ou
para proteger uma anastomose; e definitiva que são realizadas quando foram
descartadas todas as opções para restabelecer o trânsito intestinal26.
Independentemente de ser temporária ou
definitiva, a realização da ostomia acarreta uma série de mudanças na vida do
indivíduo22.
Segundo Mantovani19 (2001), o ostomizado
passa por alterações drásticas em relação à representação do seu corpo, em suas
práticas, em suas experiências, no relacionamento familiar, no relacionamento
sexual e nas relações sociais que afetam o trabalho e lazer, repercutindo na
sua autonomia.
A falta de
controle esfincteriano causa, nestes indivíduos, muitos conflitos e sentimentos
de rejeição, de culpa e ansiedade2.
Acredita–se que a qualidade de
vida seja alterada em decorrência da necessidade de um estoma, seja ele de
caráter definitivo ou provisório, e que essa QV seja ainda pior quando se trata
de um paciente ostomizado por câncer colorretal, tendo em vista as dificuldades
que os pacientes ostomizados enfrentam: físicas, psicológicas e emocionais,
relacionadas à cirurgia mutilatória, que causa grande impacto no cotidiano do
indivíduo, podendo acarretar na mudança do seu estilo de vida.
O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar a
qualidade de vida (QV) de pacientes ostomizados portadores de câncer colorretal
ou ostomizados por outras patologias e traçar projetos que possam ser úteis e
vir a colaborar na assistência destes indivíduos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário