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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Qualidade de vida em pacientes ostomizados: uma comparação entre portadores de câncer colorretal e outras patologias

Quality of life in patients stomized: a comparison between carriers ofcolorectal neoplasms and other pathologies
Eliete Cristina Borges**
Glauce Cristina Camargo**
Marcos Oliveira Souza**
Natália Ayres Pontual**
Tatiana de Sá Novato***
ResumoIntrodução – Acreditando-se que a qualidade de vida (QV) seja alterada em decorrência da
presença de um estoma intestinal e que essa QV seja pior quando se trata de um indivíduo ostomizado por câncer colorretal, o estudo em questão avaliou as dificuldades enfrentadas pelas por outras patologias. Material e Métodos – Analisou-se 59 indivíduos, portadores de ostomia há mudanças no estilo de vida dos portadores de ostomia, em decorrência do câncer colorretal ou
mais de duas semanas, com idade a partir de 18 anos, atendidos no Núcleo de Ostomizados do Conjunto Hospitalar de Sorocaba – SP, durante os meses de outubro e novembro de 2006. A abordagem foi de caráter quantitativo, de corte transversal e de aspecto retrospectivo. Os instrumentos de coleta utilizados foram: WHOQOL–bref, específico de avaliação de QV, criado pela
Resultados – Observou-se que a satisfaçãoConclusõesna QV dos indivíduos ostomizados não era alterada OMS; instrumento de dados psico-sócio-demográfico, com o intuito de caracterizar a amostra.

em decorrência do câncer colorretal. – Conclui–se que a mensuração do impacto da doença na QV dos indivíduos torna-se cada vez mais importante, e que a necessidade de um tratamento por um longo período como a ostomização, mesmo quando há presença de doença crônica, como o câncer colorretal, não representa necessariamente o fim da vida destes pacientes.
Palavras-chave: Qualidade de vida; Ostomia, enfermagem; Neoplasias colorretais
AbstractIntroduction – Believing that the quality of life (QV) either modified result of the intestinal pre-
sence of one ostomy and that this QV either more worse when if deals with an individual stomized for colorectal neoplasms, the study in question evaluated the difficulties faced for the changes in
gies. Material and Methods – We analyze 59 individuals, ostomy carriers has more than two the style of life of the ostomy carriers, in result of the colorectal neoplasms or for other patholo-
weeks, with age from 18 years, taken care of in the Nucleus of Ostomizados of the Hospital Set of Sorocaba – SP, during the months of October and November of 2006. The boarding was of quantitative character, transversal cut and retrospective aspect. The used instruments of collection demographic instrument of data, with intention to characterize the sample. Results – We observe had been: WHOQOL-bref, specific of QV evaluation, created for the OMS; psycho-partner-
colorectal neoplasms. Conclusions – One concludes that the mensuration of the impact of the that the satisfaction in the QV of the stomized individuals was not modified in result of the
illness in the QV of the individuals becomes each more important time, and that the necessity of a treatment for a long period as the ostomy, exactly when it has presence of chronic illness, as the colorectal neoplasms, necessarily does not represent the end of the life of these patients.
Key words: Quality of life; Ostomy, nursing; Colorectal neoplasms
Introdução
Qualidade de vida
A qualidade de vida (QV) tem sido incessantemente pleiteada pelo homem moderno em diferentes contextos e cenários da vida humana. O tema tem sido foco de
pesquisas e cada vez mais, artigos científicos a respeito do tema são publicados, com o intuito de descobrir quais são os aspectos, positivos ou negativos, que poderiam influenciar a QV.
Que conceito é esse que se busca? Seria o simples fato de não estar doente ou talvez saber se adequar a uma doença? A busca desta conceituação é antiga.
* Trabalho de Conclusão do Curso de Enfermagem da Universidade Paulista (UNIP) – Sorocaba.
** Graduandas do 8º semestre do Curso de Enfermagem da UNIP - Sorocaba.
*** Mestre em Enfermagem na Saúde do Adulto pela Universidade de São Paulo (USP). Professora do Curso de Enfermagem da UNIP.


Muitos autores já atribuíram diferentes conceitos a este construto.
Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) recomendava que a felicidade era o supremo fim para que existisse a boa vida, hoje entendida como QV. Comênio (1592 – 1670) relatava que ter qualidade de vida era gozar de boa higiene, educação e viver de forma a prolongar sua existência24,28.
O termo Qualidade de Vida (QV) começou a ganhar grande enfoque a partir da Segunda Guerra Mundial, quando o presidente norte-americano Lyndon Johnson, buscou como meta política, não só o progresso econômico, mas também social e ambiental, porque considerou que estes passariam a interferir de forma significativa no bem-estar da humanidade. Foi quando surgiu a necessidade de uma conceituação clássica para QV24,28.
Em 1974, surge a definição de que QV só seria alcançada se obtivessem o prazer e satisfação24.
Campbell* (1976) apud Cella e Tulsky6 (1990) e Seidl e Zannon30 (2004) relatou que QV é algo que muitos indivíduos buscam mas poucos conseguem alcançar por não entender a essência deste termo.
Segundo Minayo et al.23 (2000), a QV é uma sublime idéia que acompanha os indivíduos quando estes percebem que fatores como: a família, o convívio social e até mesmo, sua auto-estima estão em harmonia. Estes autores, além de conceituar QV, qualificou-a como boa ou excelente quando há condições para que os indivíduos possam desenvolver em excelência suas potencialidades.
Santos e Kimura28 (2002) acreditaram que a abordagem pode ser facilitada a partir do momento que se desmembra a expressão QV em qualidade/vida. Sendo que qualidade está relacionada aos aspectos positivos e negativos do indivíduo; e vida é algo difícil de definir por se tratar de um conceito infinito.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua QV como: “a percepção do indivíduo acerca de sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais vive em relação aos seus objetivos pessoais”12-14.
Dessa forma Santos e Kimura28 (2002) ressaltaram que durante a avaliação da qualidade de vida, alguns fatores devem ser observados, por interferirem de modo significativo, na percepção dos indivíduos sobre este construto.
Estes fatores podem ser denominados subjetivos como, bem-estar, dor, satisfação no trabalho, entre outros. Quando não relatados, são definidos como objetivos, são exemplos: rendimento familiar, consumo alimentar, população abaixo da linha de pobreza e outras25,28,30.
Como se observa ao decorrer desta introdução, a qualidade de vida (QV) é bastante abrangente, de forma que, na maioria das vezes é influenciada pelos desejos e anseios de cada ser humano25,28,30.
Nas últimas décadas avanços tecnológicos surgiram como meio de se prolongar a vida dos homens, e, a busca pela compreensão da qualidade de vida destes indivíduos culminou com a publicação intensiva de artigos de avaliação da QV na literatura científica internacional25.
Entretanto, a crítica de que a saúde ou a doença não são os únicos aspectos que constituem o construto QV fez com que surgisse a preocupação em se aplicar o termo Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) quando a avaliação da QV enfoca aspectos relacionados à saúde/doença, tratamento e repercussões destes no cotidiano dos indivíduos29.
A avaliação da QV só é possível sob a ótica do indivíduo avaliado e instrumentos genéricos e específicos foram criados e validados para este fim4,7.
Os instrumentos específicos são destinados a mensurar determinadas doenças e populações, e reflete de maneira individual, o impacto que uma doença pode causar na vida de um indivíduo. Já os instrumentos genéricos podem ser usados para medir o impacto de diversas doenças sobre a vida de indivíduos, podem ser utilizados na população e tem como vantagem ser passível de comparações entre indivíduos com patologias diferenciadas4,7.
Dentre os instrumentos genéricos, adaptados para a cultura brasileira, mais conhecidos destacam-se: o SF36: Medical Outcomes Study 36 – Item Short Form (adaptado por Ciconelli em 1997); o instrumento da Organização Mundial de Saúde (OMS), intitulado WHOQOL – 100 (adaptado por Fleck et al. em 1997); o Quality of Life Index de Ferrans and Powers (adaptado por Kimura em 1999); e o Flanagan’s Quality of Life Scale (adaptado por Gonçalves em 1999)5,7,11-14,27.
Os instrumentos genéricos variam de acordo com: a sua forma de aplicação, seu enfoque e sua extensão, e, têm por finalidade avaliar a QV, tanto em pessoas saudáveis, ou não7,12-14.
Câncer
Câncer é uma doença temida, apesar de existir inúmeras formas de tratamento esta doença traz o estigma das épocas passadas, quando morriam muitas pessoas18,24.
O câncer é conhecido desde a antiguidade, em relatos de Elbers (1500 a.C) que em um papiro, citava a doença e seu tratamento com uso de ungüento e arsenial18,24.
O primeiro relato de cura do câncer consta no século V, quando Domocedes (560 a.C), através de incisão e cauterização realizou o procedimento em um câncer de mama18.
Hipócrates (460 – 375 a.C) usava descrições sobre câncer de pele, mama, útero e órgãos internos, e utilizava o termo grego karkanios, que significa caranguejo, para indicar tumoração crônica e proliferação, pois as células doentes infiltravam nas células sadias como se fossem tentáculos18.
Galeno (131 – 203 d.C), médico romano da Era
Cristã, criador da teoria humoral atribuía o aumento da bile negra como a causa do câncer18,24.
A partir de 1652, Rudbeck descobriu os linfonodos, o que levou muitos cientistas a relacionarem o sistema linfático como a causa do câncer32.
* Campbell (1976) apud Cella DF, Tulsky D. op. cit. ref. 6 e Seidl EMF, Zannon CMLC. op. cit. ref. 29.
O primeiro a romper com as teorias hipocráticas, foi Leônidas (180 d.C.), que ampliou o tratamento do câncer da mama, através da ressecção dos tecidos sadios e cauterização18.
Sennert (1572 – 1697) e Lusitano (1642), partiram do conceito de que o câncer era contagioso, sendo assim os doentes passaram a serem isolados. Foi nessa época, que surgiu o primeiro hospital especializado, em Rheines, na França (1740)18,24.
Com o decorrer do tempo, descobertas como: a circulação sangüínea, a ausência de bile negra nos glóbulos vermelhos e a origem do câncer cutâneo, por meio das autopsias, fizeram com que novas formas de descrever o câncer surgissem18.
Nos dias atuais, a definição de câncer é dada a um grupo de doenças que tem como característica a desordenada multiplicação de células malignas, ou seja, “células normais que sofreram alterações em seu DNA”. Quando essas células desenvolvem de forma agressiva e incontrolável, formam os tumores malignos (neoplasias malignas), e quando invadem células vizinhas e distantes, caracteriza-se metástase16-17,20.
Estima-se que no ano de 2006, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) do Ministério da Saúde, deverão ocorrer mais de 472 mil casos novos, sendo 234 mil entre os homens e 238 mil entre as mulheres. E os tumores de maior incidência na população brasileira serão os de pele não melanoma (116 mil), mama feminina
(49 mil), próstata (47 mil), pulmão (27 mil) e cólon e reto
(25 mil)17.
As causas do câncer são variadas e existem vários fatores que favorecem o seu desenvolvimento. Pode-se citar como principais: predisposição genética, hábitos alimentares, estilo de vida e condições ambientais9,1517,24.
O câncer pode afetar diversos órgãos, dentre eles, o cólon e reto, que fazem parte do intestino grosso, que tem por função absorver nutrientes e excretar substâncias não aproveitadas pelo organismo em forma de fezes9,16-17,20.
A causa do câncer colorretal é desconhecida, mas os fatores predisponentes à ocorrência deste câncer já são conhecidos e incluem: a presença de histórico familiar de câncer, histórico de câncer anterior, doença intestinal inflamatória, alimentação com grandes quantidades de gordura, obesidade, indivíduos com idade superior a 50 anos de idade15.
A maior incidência de casos ocorre na faixa etária entre 50 e 70 anos, mas as possibilidades de desenvolvimento já aumentam a partir dos 40 anos18.
Segundo estimativas publicadas pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) em 2006, o câncer colorretal é apontado como o 5º tumor maligno mais freqüente entre homens (com 11.390 casos novos) e 4º entre as mulheres (13.970 casos novos); e este tipo de câncer irá superar o câncer de colo de útero na região sudeste17.
O câncer colorretal, quando diagnosticado no estágio inicial, tem grandes chances de cura, mais é dificultado pela ocorrência tardia dos sintomas, uma vez que estes possam ser confundidos com outras patologias que afetam o trato gastrintestinal16,20.
Apesar de alguns sinais como: a mudança no hábito intestinal, início recente de constipação, aumento de flatos, dor abdominal, vômitos, náuseas e astenia serem relacionados como sintomas do câncer colorretal, o diagnóstico final somente será confirmado através de exames complementares9,20,31.
Após o diagnóstico, a doença é avaliada e classificada em estágios, de acordo com a extensão do tumor e sua invasão nas camadas do intestino, a presença ou ausência de linfonodos e metástases (estadiamento). E dependendo do grau de malignidade é traçado o plano de tratamento que consiste: a radioterapia, a quimioterapia, a ressecção cirúrgica do local afetado ou também usado em combinação9,20,31.
A ressecção cirúrgica do local afetado é o principal tratamento para o câncer colorretal, e consiste na retirada do tumor, dos linfonodos e também dos tecidos afetados. Se houver muito dano ao cólon, será necessário a criação de um estoma intestinal31.
A ostomia é considerada uma efetiva terapêutica para o câncer colorretal pelos profissionais de saúde, mas pelos pacientes portadores, é considerada uma grave limitadora da QV.
Ostomia
Estoma, ostoma, estomia, ostomia são palavras de origem grega cujo significado se traduz em “abertura” ou “boca”, que é realizado através de um ato cirúrgico que exterioriza uma porção do intestino para parede abdominal9,21.
Conforme o segmento exteriorizado no intestino, as ostomias recebem denominações diferenciadas: no intestino grosso (cólon), colostomia e no intestino delgado, ileostomia21.
Historicamente, as ostomias são provenientes do séc. XVII, em que foram descritos relatos (Lorenz Heister) de soldados feridos na região do intestino, durante batalha, e sobreviveram graças a enterostomia10.
Sabe se, porém que o primeiro estoma bem sucedido fora uma colostomia realizada por Duret (1793), em uma criança com o ânus imperfurado3.
Czerny, em 1883, realizou a colostomia como tratamento do câncer colorretal e no mesmo ano, Madeyl criou a colostomia em alça com bastão3.
Anos se passaram até Block (1892) descrever a colostomia em duas bocas. Mayo (1904) e Miles (1908) criaram a primeira colostomia definitiva e surge a preocupação de como seriam coletados os resíduos3.
Há relatos na França em 1795, de um fazendeiro ter usado uma bolsa de couro para coletar as fezes e assim sucessivamente outros dispositivos interessantes surgiram, como: sacos de pão, latas de atum, caixas de alumínio. E com eles, a preocupação com o cuidado da pele exteriorizada, que para prevenir lesões, eram utilizados talco e amido; e para minimizar odores: perfume, bicabornato de sódio, vanila e extrato de menta1.
Atualmente, já existem técnicas cirúrgicas adequadas e produtos com tecnologia para tratar a pele e o descarte dos resíduos do paciente ostomizado.
Hoje, as indicações que levam um indivíduo a necessitar de uma cirurgia reparadora, que crie um novo caminho sempre que a passagem das fezes forem ocluídas, são diversas e entre elas pode-se destacar doenças como: o câncer colorretal, a diverticulite, os traumas abdominais, a colite isquêmica, os polipose adenomatosa, entre algumas outras3,9,26.
Dependendo da etiologia e do grau de comprometimento da doença, o cirurgião indicará a realização de uma ostomia, que poderá ser de caráter provisório, como em casos de perfuração intestinal ou para proteger uma anastomose; e definitiva que são realizadas quando foram descartadas todas as opções para restabelecer o trânsito intestinal26.
Independentemente de ser temporária ou definitiva, a realização da ostomia acarreta uma série de mudanças na vida do indivíduo22.
Segundo Mantovani19 (2001), o ostomizado passa por alterações drásticas em relação à representação do seu corpo, em suas práticas, em suas experiências, no relacionamento familiar, no relacionamento sexual e nas relações sociais que afetam o trabalho e lazer, repercutindo na sua autonomia.
A falta de controle esfincteriano causa, nestes indivíduos, muitos conflitos e sentimentos de rejeição, de culpa e ansiedade2.
Acredita–se que a qualidade de vida seja alterada em decorrência da necessidade de um estoma, seja ele de caráter definitivo ou provisório, e que essa QV seja ainda pior quando se trata de um paciente ostomizado por câncer colorretal, tendo em vista as dificuldades que os pacientes ostomizados enfrentam: físicas, psicológicas e emocionais, relacionadas à cirurgia mutilatória, que causa grande impacto no cotidiano do indivíduo, podendo acarretar na mudança do seu estilo de vida.
O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar a qualidade de vida (QV) de pacientes ostomizados portadores de câncer colorretal ou ostomizados por outras patologias e traçar projetos que possam ser úteis e vir a colaborar na assistência destes indivíduos.

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